Caldas da Rainha homenageou o “homem livre” que foi António Maldonado Freitas

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O ex-presidente da República, Mário Soares, veio às Caldas no Domingo em nome da amizade fraterna que tinha com António Maldonado Freitas, que foi este ano homenageado com a medalha de honra da cidade, a título póstumo. “Um homem de uma fraternidade absoluta e uma simpatia extraordinária”, caracterizou.
Na cerimónia, que arrancou ao som da Banda Comércio e Indústria, foram ainda distinguidas várias personalidades, empresas e associações, que têm trabalhado em prol da comunidade.

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O filho de António Maldonado Freitas recebeu a medalha das mãos do amigo da família, Mário Soares

“As Caldas da Rainha e a família Freitas estão sempre unidas no meu espírito”. Foi desta forma que o ex-presidente da República, Mário Soares, se referiu à cidade e à família que o acolheu na infância e cuja amizade tem perdurado toda a vida.
Mário Soares recordou a temporada que passou na casa desta família, em criança, nos anos 30, quando o pai estava deportado nos Açores. “Nesse tempo vivi na casa Freitas e a mãe Margarida foi para mim uma segunda mãe, era uma pessoa extraordinária, e o pai Freitas era uma pessoa à antiga, que impunha disciplina aos filhos”, lembrou, acrescentando que viveu como se fosse “efectivamente irmão deles”.

Mais tarde Mário Soares chegou a estar preso no Aljube, juntamente com o pai de António Maldonado Freitas.
“Foi uma vida atribulada, mas cheia, e uma vida em que a família Freitas sempre esteve relacionada comigo e eu como se fosse um irmão de todos eles, embora cada um tivesse a sua filosofia e a sua política”, resumiu.
Falando de António Maldonado Freitas, disse ser um homem de “uma fraternidade absoluta e uma simpatia extraordinária”.
Volvidos 35 anos da sua morte, a Câmara das Caldas homenageou o advogado e lutador anti-fascista António Maldonado Freitas. O seu filho, Custódio Maldonado Freitas, partilhou as lembranças e defendeu que “importa defender a memória”.
Lembrou que o seu pai cedo começou a intervir civicamente, sendo um dos fundadores, em 1927, do batalhão académico anti-fascista, juntamente com Asdrúbal João de Aguiar, Teófilo Carvalho dos Santos, José Magalhães Godinho, Vasco da Gama Fernandes, Abílio Mendes e Alberto Ferreira.
Foi preso pela primeira vez em Abril de 1931 e encarcerado na penitenciária de Lisboa, e “preso e torturado barbaramente pela PIDE pela segunda e terceira vez no forte de Peniche”. Fundador do MUD (Movimento de Unidade Democrática) em 1945, António Maldonado Freitas participou, quatro anos mais tarde, nas campanhas eleitorais para a Presidência da República do general Norton de Matos, e depois do almirante Quintão Meireles (1951) e general Humberto Delgado (1958).
Aderiu ao ASP (Associação Socialista Portuguesa) e veio a filiar-se no PS em 1973, tendo exercido diversos cargos políticos.
“Importa realçar que sempre enalteceu o 16 de Março como movimento precursor do 25 de Abril”, lembrou Custódio Freitas, destacando que após a queda da ditadura foi, juntamente com o seu irmão Custódio Maldonado Freitas, em nome da oposição, agradecer aos militares do RI5 o “acto libertador e exortando o povo à unidade”.
O agora homenageado participou também, juntamente com os colegas Francisco Sousa Tavares e Macaísta Malheiros, nas negociações com os membros da Junta de Salvação Nacional para a libertação de todos os presos políticos da cadeia do forte de Peniche.
“Foi um homem sem certezas e sem dogmatismos. Sincrético e homem livre”, caracterizou o seu filho, destacando que aderiu sempre na luta por uma sociedade mais justa e na afirmação de que a solidariedade é um acto que “sem outra opção, ou se vive ou se trai”.
Custódio Freitas lembrou ainda o seu pai como símbolo de humanismo, político incorruptível e de uma só fé, a ideologia. “Amigo do seu amigo, foi alguém que no meio em que se afirmou e vincou a sua personalidade deixou discípulos”, disse, dando como exemplo Hermínio de Oliveira.
Sobre o homem que “teve adversários, mas nunca inimigos”, Custódio Freitas revelou que esta homenagem é um acto de justiça.
O presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, deu nota do seu apreço pelo socialista convicto, que tinha uma tolerância imensa para com os seus adversários políticos. O autarca reconheceu ainda que esta homenagem é tardia.

“A participação politica
dos jovens é fundamental”

A crise e as oportunidades que esta pode originar estiveram na base do discurso do presidente da Assembleia Municipal, Luís Ribeiro, que defendeu um recentrar do papel do Estado para que este possa continuar a garantir as liberdades individuais.
“Queremos verdade, crescimento económico, mais emprego e justiça social”, defendeu.
Luís Ribeiro reconheceu que existem dificuldades, mas também muitas potencialidades, como o facto das Caldas estar perto de Lisboa, mas sem os inconvenientes da capital.
“Somos um somatório de diferentes realidades, mas complementares”, com agricultura, ruralidade, mar, praia, comércio, serviços, termalismo, cerâmica, indústria. O autarca falou ainda dos entraves do Estado central no que respeita ao desenvolvimento do termalismo.
Os jovens estiveram também em destaque no discurso de Luís Ribeiro, que os caracterizou como “os mais qualificados de sempre” de quem se espera muito. Defendeu a sua participação activa na vida das empresas, associações e também dos partidos.
“A participação politica dos jovens é fundamental, mas esta não deve ser vista como o caminho mais fácil para um emprego ou uma colocação”, disse.
Também presente na cerimónia, o governador civil de Leiria, Paiva de Carvalho, destacou a homenagem à cidade das Caldas da Rainha e realçou que é “muito importante ter memória”.
Nesta cerimónia foi também agraciado com a medalha grau ouro o grupo Auto-Júlio. As medalhas de grau prata foram entregues ao Grupo Barosa, Estores Rainha, Carlos Gomes dos Santos (presidente do Sporting Clube das Caldas), Sofia Reboleira (bióloga), Sebastião Pereira (juiz luso-americano originário da freguesia de Tornada) e Filipe Vargas (actor).
Já a medalha de grau bronze foi atribuída à Associação ANDAR da Ramalhosa e à Associação do Zambujal (ambas comemoram 25 anos), Frederico Silva (tenista), José Fernandes António (músico há 50 anos na Banda Comércio e Indústria), secção de pesca desportiva do Centro Recreativo e Cultural de Salir do Porto, João Maria Ferreira (do Grupo de Amigos do Museu da Cerâmica), Joaquim Pereira Marques (do Caldas Sport Clube), José Ferreira Faria (ao ex-farmacêutico), e Carlos Figueiredo (dirigente associativo).