Trabalhar em cooperação é o segredo do êxito dos produtores de pêra do oeste

1
1488

Se há sectores em Portugal aos quais a crise não bateu à porta, o da pêra Rocha é um deles. No encontro anual dos produtores desta fruta, que teve lugar na Sobrena no dia 9 de Maio, com a presença do ministro da Agricultura, António Serrano, viam-se agricultores satisfeitos, que não exigiam subsídios nem faziam queixas do governo.
O sector vive um momento de expansão, produzindo 200 milhões de euros de pêra rocha por ano, das quais 150 milhões vão para o estrangeiro. O Reino Unido, a França e o Brasil absorvem 75 por cento das exportações.

notícias das Caldas
A fileira da pêra Rocha constitui um dos sectores exportadores mais importantes da região Oeste

“Se a banca nos bate à porta [a oferecer crédito numa época em que este é escasso] é porque somos estáveis e temos credibilidade”. Torres Paulo, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Pêra Rocha, tem razões para estar optimista quanto ao futuro porque vê o sector consolidado e com perspectivas de crescimento. O dirigente está convicto que pode haver ainda muito terreno para plantar com pomares sem que existam problemas de escoamento.

Uma das razões de sucesso deste cluster é a mentalidade empresarial dos agricultores do Oeste. “Os nosso associados reinvestem nas suas próprias empresas em vez de se preocuparem em retirar logo os dividendos. Aqui temos a percepção de que o mercado nos devolve o dinheiro que investimos”, explica.
Por esse motivo, os pericultores não temem a concorrência uns dos outros. “O que nos assusta são os franceses, os italianos e os espanhóis, que têm melhores condições, têm água, custos de produção mais baixos, têm povos que consomem o que é nacional e têm ajudas que são dadas no dia seguinte e não ao fim de quatro anos”.
Mas se isto é válido para a generalidade dos agricultores portugueses, também é verdade que se dilui um pouco no que diz respeito aos produtores de pêra Rocha pois, como se sabe, produzem um fruto único. E aí não há concorrência estrangeira que lhe chegue.
Em 2010 Portugal produziu 171 mil toneladas de pêra Rocha, das quais exportou 80 mil toneladas, sobretudo para o Reino Unido (27% do total de exportações), França (25%) e Brasil (24%). Os outros países de destino já ficam a uma diferença abissal dos três primeiros – Rússia (5,4%) das exportações, Irlanda (5,1%).
Também no ano passado facturaram 200 milhões de euros, dos quais 150 no mercado externo.
Um indicador de que os empresários do sector estão unidos é o facto de a ANP representar 2500 pericultores, responsáveis por um volume de vendas de 120 milhões de euros, num total de 200 milhões produzidos em Portugal.
As quatro maiores empresas são a Unirocha, Coopval (ambas do Cadaval), Granfer (Óbidos) e Primofruta (Bombarral), que em 2010 venderam 44 mil toneladas para o estrangeiro, o que significa 54% das exportações de pêra Rocha.
Durante o jantar anual, que decorreu nas instalações da Frutus, na Sobrena, num armazém onde se viam as máquinas calibradoras, o ministro António Serrano elogiou a capacidade de associação dos pequenos produtores individuais e a fusão de empresas agrícolas para ganharem maior massa critica e obterem economias de escala. Segundo o governante, este é um dos factores de êxito do cluster da pêra Rocha. “Associaram-se, ganharam dimensão e souberam projectar-se”, disse o ministro, para quem este modelo deveria ser replicado para outros sectores como os hortícolas e as flores.
A criação de valor passa também pelo competência técnica, pelo domínio dos circuitos de comercialização e pelo marketing e publicidade. E essa é outra das explicações pelas quais o sector triplicou em cinco anos o volume de exportações.
Uma das inovações tecnológicas são as câmaras de atmosfera controlada onde a fruta é mantida sem oxigénio, podendo conservar-se durante muitos meses com as mesmas características de quando acaba de ser colhida.
Por outro lado, os agricultores têm de obedecer a normas e procedimentos muito restritos, no âmbito das certificações a que estão obrigados para poderem exportar para os mercados mais exigentes. Entre outras coisas têm de colocar retretes amovíveis nos pomares durante as colheitas e nos pomares quase que existe uma espécie de Bilhete de Identidade para as pereiras. Nos armazéns é obrigatório o uso de luvas e de roupa apropriada, touca para a cabeça e uma forte implementação de hábitos de higiene
“Depois disso a fruta já pode ir para o supermercado onde qualquer um lhe pode tocar nas prateleiras, mesmo que tenha as mãos sujas”, ironizava um dos agricultores durante o jantar, para o qual existe uma contradição entre as exigências no tratamento das pêras e a total ausência de higiene a que estão sujeitas quando estão nas prateleiras à venda, podendo ser tocadas e mexidas por qualquer pessoa.
Visto país a país, Portugal é o maior mercado da pêra Rocha, absorvendo uma quarta parte da produção nacional. Desta, 64% vai para as médias e grandes superfícies e 19% para a indústria, sobretudo a dos sumos.
A Indumape é uma empresa de Pombal que se dedica unicamente à transformação de fruta em concentrado que depois é vendida às empresas de sumos, entre elas o próprio grupo Sumol + Compal. Segundo Oswaldo Trabulo, director-geral, da Indumape, uma grande parte da sua produção é exportada, sobretudo para o mercado europeu. Se o leitor beber um sumo de pêra na Alemanha ou na França de uma marca daqueles países, é elevada a probabilidade de estar a consumir um produto que teve por base a pêra Rocha do Oeste, transformada em concentrado em Pombal e depois diluído e empacotado num daqueles países.

 

Joaquim Tavares é o maior produtor nacional de pêra Rocha

A Mundial Rocha SA, com sede na Delgada (Bombarral) é constituída por sete accionistas sendo Joaquim Tavares o detentor de maior número de acções. A título individual, este empresário é o maior produtor de pêra Rocha do país.
A empresa emprega cerca de 40 pessoas, número que varia ao longo do ano, chegando a atingir as 300 pessoas na época das colheitas. A sua área de cultivo, de 250 hectares, abrange terrenos nos concelhos do Bombarral e do Cadaval. Cerca de 220 hectares estão ocupados com pomares de pêra Rocha e os 30 restantes com maçã.
Uma das suas vantagens competitivas é a elevada capacidade de armazenagem, com três centrais fruteiras na Delgada e duas em S. Mamede, sendo que a segunda, nesta localidade, representou um investimento de 4,5 milhões de euros. No total os três armazéns têm capacidade para armazenar 13 mil toneladas de fruta.
Em 2010 e 2009 a empresa produziu 5000 toneladas de pêra rocha, estimando chegar este ano às 6500 toneladas. A facturação rondou os 4 milhões de euros em 2010 e os 3,5 milhões em 2009. Para este ano Joaquim Tavares espera um volume de negócios próximo dos 5 milhões de euros.
A Mundial Rocha, SA exporta 75% da sua produção. Por ordem decrescente os mercados de destino são a França, Alemanha, Polónia, Irlanda, Brasil e Marrocos.
O escoamento da sua produção no mercado nacional (uma em cada quatro peras são vendidas em Portugal) tem uma tipologia diferente da da maioria dos produtores pois este empresário evita as grandes superfícies.
“É uma guerra complicada porque eles apertam muito nos preços”, explica, embora reconheça que, de futuro, será difícil não vender para este importante mercado, até porque a sua produção tem vindo a aumentar e os canais habituais de distribuição estão a esgotar-se.
Graças à boa capacidade de armazenagem e na aposta nas câmaras de atmosfera controlada, Joaquim Tavares é o último produtor a acabar a fruta, conseguindo em pleno mês de Junho estar a vender – fresquinhas e saborosas como se tivessem sido acabadas de apanhar – as pêras do Verão anterior.
“Em Abril, Maio ou Junho estão tal e qual como estavam quando as apanhámos”, diz, ciente de que este é um factor de competitividade porque o preço nesta altura é mais elevado. Ao longo do ano, a venda de pêra Rocha no produtor pode ir dos 0,30 euros aos 1,20 euros.
Natural da Delgada, Joaquim Tavares tem 43 anos e descende de uma família de agricultores. Pegou na actividade dos pais e nos últimos 20 anos não fez mais do que comprar terras e alargar a sua produção, reinvestindo sempre o dinheiro que ganhava.
Os seus projectos de crescimento mantêm-se (tem novas áreas com mais pomares) apesar dos tempos de crise. E é meio a rir que afirma: “Isto está péssimo e eu estou a investir. Se calhar é uma doideira, mas temos que ser ambiciosos”.

 

A vocação brasileira da CPF

“Não existe em mais lado nenhum. Embora existam experiências de produção no Brasil e em Espanha, o fruto que daí resulta tem características diferentes do que é produzido na nossa região”. Vanda Rodrigues, gerente da CPF – Central de Produção e Comercialização de Hortofrutícolas, Lda, confirma esta vantagem comparativa de um fruto que não só não se produz no estrangeiro, como em Portugal se circunscreve à região Oeste. Tem a ver com o clima e as condições dos solos, explica.
Esta empresa é também um exemplo de associação de produtores. Foi criada no Bombarral em 1997 e tem dez sócios que pertencem aquele concelho e aos de Cadaval, Alcobaça, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Mafra. No total são dez explorações com 205 hectares que se situam nesses concelhos. Noventa e cinco por cento da produção é pêra rocha.
Em 2010 a empresa produziu 10.500 toneladas e facturou 8,5 milhões de euros. Oitenta por cento da sua produção tem como destino o Brasil, 5% a Rússia e o mercado nacional tem uma quota de 15%. “É sempre um risco estarmos tão dependentes do Brasil, mas temos lá clientes desde o norte ao sul do país e esta foi uma opção dos nossos sócios que, antes de se juntarem, vendiam para lá”.

 

Três empresas numa só para garantir poder na comercialização

A Frutus foi formada em 1992 por 16 sócios e rapidamente subiu ao topo das maiores produtoras de pêra Rocha do país, facturando hoje entre 17 a 18 milhões de euros e exportando 60% da sua produção.
“Mas apesar de sermos a segunda maior empresa em tonelagem e instalações, achámos que éramos pequenos e associámo-nos com pequenas e médias empresas hortícolas e de outras frutas que não a pêra Rocha”, conta Torres Paulo, que é o sócio maioritário da Frutus.
Desta fusão nasceu a triPortugal, uma empresa de comercialização que engloba a Frutus, a Eurohorta e a Melro. Cada uma delas tem apenas um cliente – a triPortugal – que depois se encarrega de escoar a sua produção, uma vez que possui capacidade de armazenagem e massa crítica para poder negociar as vendas.
A Frutus investiu cerca de 20 milhões de euros ao longo dos últimos 20 anos. Só entre 2009 e 2010 fez investimentos de 4,5 milhões de euros e Torres Paulo tenciona alargar ainda mais a capacidade de armazenagem pelo que em 2012 deverá investir mais 3 milhões de euros na sua central na Sobrena (Cadaval).

Filme publicitário vai contar a lenda da pêra Rocha

O grupo Sumol+Compal vai fazer um filme publicitário que conta a história da criação da pêra Rocha, que, segundo a lenda, foi obtida casualmente por um criador de cavalos, Pedro António Rocha, cujo apelido inspirou a sua designação.
Da sua árvore mãe foram produzidas mais de 15 milhões de plantas, que mantiveram sempre a sua “rusticidade” fazendo deste fruto um produto sumarento e muito resistente (o que é útil quando este é exportado para países como a Rússia, Cabo Verde e Canadá).
O filme da Compal fará uma recriação histórica do séc. XIX e será realizado por Leonel Vieira, autor de filmes como A Selva, O Julgamento e Zona J.
A Sumol+Compal é um dos principais clientes nacionais de pêra Rocha e assinou um protocolo de cooperação com a ANP para a realização deste filme, estando ainda em perspectiva a criação de um roteiro turístico Pêra Rocha, destinado a dar visibilidade a este produto.
Os sumos de pêra da Compal são todos de pêra Rocha, mas só há alguns meses é que foi criado uma marca e um logótipo próprios para inserir nos pacotes de sumos.
Para breve, e ainda no âmbito da promoção desta fruta, está previsto o lançamento de um livro sobre as Quintas da Pêra Rocha.
A ANP tem ainda um protocolo com a Sonae para a promoção da pêra Rocha em contacto directo com o público nos supermercados daquele grupo. Em 2010 uma acção deste tipo custou 31 mil euros, mas resultou num pico de procura por parte dos consumidores, que levou até à ruptura de stocks em algumas grandes superfícies.
A Confraria da Pêra Rocha e a divulgação de receitas de culinária com base neste fruto têm sido outras acções que acrescentam valor ao fruto português mais exportado.

 

Empresas premiadas pela ANP

– Frubaça, Soati – Évora de Alcobaça
– Central Ecofrutas – Vale Covo – Bombarral
– Frutalvor Central fruteira, C.R.L. – Caldas da Rainha
– Central Frutoeste – Mafra
– Central de Frutas do Painho – Painho,  Cadaval
– Campotec – Quinta do Brejo, Vale Maceira
– Centro de Produção e Comercialização Hortofrutícola C.P.F. – Bombarral
– Frutus – Sobrena, Cadaval
– Luis Vicente – Joaquim Faustino Ventura – Carvalhal, Bombarral
– Mundial Rocha-Fruto São –  Delgada, Bombarral
– Cooperativa Agrícola dos Fruticultores do Cadaval – Cercal, Cadaval
– Cooperfrutas – Painho, Cadaval
– Narc Frutas – Cela, Alcobaça
– ObiRocha – A-dos-Francos, Caldas da Rainha
– Cooperativa Agrícola do Bombarral – Bombarral

1 COMENTÁRIO

  1. E o mais engraçado è que não pagam aos empregados, assim com o dinheiro dos outros , também eu sou empresário, cambada de vigaristas e exploradores