A semana do Zé Povinho

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Zé Povinho ficou deveras entusiasmado com a visita que a Gazeta fez, esta semana, ao sr. João Vieira, da Póvoa do Cadaval, que é um verdadeiro Guardião das Sementes da Estremadura. Nas páginas desta edição se dá a conhecer um homem inteligente e o percurso de oito décadas de uma vida rica em contacto com a natureza e na sua defesa. E também na defesa das belas tradições do nosso país.
Contactar com a sua exemplar missão de guardar, preservar e desenvolver uma agricultura verdadeiramente sustentada e sustentável, baseada nos produtos ancestrais que a civilização humana foi construindo e acrescentando em valor, é uma oportunidade única.
Ele próprio entende a importância de manter e valorizar a figura do agricultor moleiro, quase extinta pela civilização industrial que tudo quer normalizar, automatizar e costumizar, e que hoje muitos já sabem respeitar.
Igualmente se verifica que a sua passagem como imigrante por terras europeias não foi em vão, pois também lhe permitiu conhecer outras práticas e trazê-las para Portugal, demonstrando que a emigração é um importante factor de paz e desenvolvimento, que não pode ser menosprezada, para mais num país que tem a população a decrescer.
É pena que haja profissões e tradições a cair em desuso e, sobretudo, que hoje em dia se desvalorizem actividades tão relevantes para a nossa convivência em sociedade. Felizmente, há bons exemplos, como o deste cadavalense, que “remam” em sentido contrário e dão um raio de esperança a Zé Povinho.

Esta semana o mundo ficou surpreendido com o Rei Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias, emérito dos vizinhos espanhóis, havia pedido autorização ao seu filho e Rei em funções, para se exilar em destino desconhecido (para já).
Tanto Zé Povinho, como o seu autor, Rafael Bordalo Pinheiro, tiveram sempre um olhar desconfiado e muito irónico, para com estas personagens, apesar do artista, republicano confesso, ter mantido, ao que parece, boas relações com alguns coroados da sua época, nomeadamente com o Rei D. Carlos e a sua mulher, D. Amélia.
Mas o que aconteceu na corte castelhana de D. Juan Carlos? Zé Povinho, republicano dos sete costados, não conseguiria idealizar uma história tão picante, para fazer a sua propaganda anti-monárquica… Alegadamente dinheiro sujo, sexo fora do casamento, corrupção, infidelidade, tráfico de influências, fuga ao fisco, frequência reiterada de paraísos fiscais, ou seja, os ingredientes essenciais para alimentar uma telenovela de cordel e as páginas da caricatura… Isto tudo não faz esquecer o papel que teve em determinado momento de fidelidade à democracia espanhola, pós-Franco.
A realeza, especialmente mediterrânica, era conhecida pelas suas práticas pouco católicas, como diria o povo, que aliás alimentam e alimentaram a história dos mexericos nas várias cortes internacionais, mesmo que continue a haver alguns que se batem por regimes não electivos para terem os seus símbolos, invocando uma alegada barateza. Mas nestes casos republicanos, mesmo que eles também não sejam muito frequentáveis, o povo tem sempre a possibilidade de os mudar.
Zé Povinho, elege a descer esta semana com os protestos da sua mais elevada consideração o ex-emérito castelhano, D. Juan Carlos, desta vez com o nome reduzido às duas mais plebeias palavras….