AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FERNÃO DO PÓ – Um louvor a Miguel Torga

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Notícias das Caldas No âmbito do evento “Hoje há Convidados” a Biblioteca do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó convidou Carlos Carranca, poeta, ensaísta, declamador, cantor e animador cultural para falar sobre a obra e a pessoa de Miguel Torga (Adolfo Correia da Rocha), escritor e poeta três vezes nomeado para o Nobel da Literatura. A plateia do auditório do AEFP, composta por alunos, professores, e convidados da universidade sénior e de escolas de Caldas da Rainha, entre outros, vibraram com as suas palavras desde a declamação às histórias contadas. Mais uma vez e também reconhecido pelo convidado, este evento dignifica a Escola Pública na promoção cultural.
A iniciativa inseriu-se no trabalho realizado por alunos do 10º ano de CT no âmbito da disciplina de português  sobre “Poesia Contemporânea dos séculos XX e XXI”, desenvolvendo várias atividades como “Nós somos poesia” em que os alunos escolhem um poema e a constituição do Blogue “Andam p’la terra os poetas….” numa homenagem a Carlos Carranca.
A palestra iniciou-se com a leitura do poema “Mãe” de Miguel Torga por uma aluna da Universidade Sénior, tendo Carlos Carranca referido que o poeta o escreveu perante o caixão aberto da sua mãe; seguidamente foi lido o poema “A liberdade”, escrito em 1975 Carlos Carranca mencionou que para Torga “a liberdade é uma penosa conquista da solidão”.

Sobre ser professor Carlos Carranca disse que “mais do que ensinar é estar sempre a aprender”, concluindo que “os políticos não aprendem porque raramente são professores”. Sobre ser poeta, explicou a necessidade da existência de sensibilidade “ou se nasce poeta, ou não há hipótese….”, referindo que no entanto esse dom pode ser desenvolvido pela educação para a sensibilidade “procurando as palavras  que coincidem  com o que sentimos pela vida”. A poesia é “ritmo e melodia e não filosofia, porque é sensibilidade enquanto filosofia é razão”.
Para Carlos Carranca “A Criação do Mundo” de Torga é como “uma transfusão de sangue”; apesar de Torga ser ateu, a sua poesia tem uma carga religiosa, dedicando poemas ao Natal e ao menino Jesus que  simboliza  todos os meninos que poderão ser potenciais homens justos e bons, Camões ou ‘Mozarts’, acreditando numa sociedade mais justa. Nos anos 40 (II G. Mundial) Torga escreveu que “só a poesia poderia pacificar os homens” pela sua sensibilidade. Homem solitário, não gostava de pertencer a grupos e questionava o poder político. Muitos eram os que com ele se aconselhavam e foi um visionário ao descrever em 1990 a situação para que Portugal caminharia…. Em Dezembro de1994 escreve “O último Natal” estando a morrer de cancro.
O seu pseudónimo nasce em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno; Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha. A sua sepultura é uma campa rasa com uma torga plantada a seu lado, em sua  honra.
A palestra terminou com Carlos Carranca a cantar baladas de Coimbra, acompanhado à viola por António Toscano e à guitarra por Teotónio Xavier (ambos acompanharam Zeca Afonso em fases diferentes da sua carreira). Um dos momentos mais altos foi a “Balada de Outono” com que Zeca Afonso revolucionou o fado de Coimbra.

Gabinete de Projetos e Comunicação do AEFP