Cidadania a precisar de termas

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Acreditar no divino e não aspirar alcançá-lo é a única felicidade que existe
Giorgio Agamben

1- O título é uma falsa ironia, um paradoxo.

a) As Termas das Caldas da Rainha estão, mais uma vez, num nó górdio entre a vida e a morte. Elas são fundamentais para uma urbe que se afirme com uma singularidade competitiva e centrais para um projecto de futuro para a cidade e um exemplo para o País;

b) A Cidadania tem revelado, nas Caldas, algum potencial, espírito de inovação e criatividade, com iniciativas que são referência nacional, pela sua lógica e intervenção, e importantíssimos para que a Democracia não se esgote na representação, mas tenha, também, uma expressão participativa e melhor polis.

Mas a Cidadania – sempre sujeita aos perigos da sua diluição ou participação nas estruturas representativas democráticas –, foi até ao presente incapaz de se organizar para romper com a mornitude em que a política local vegeta, ou seja, um poder que se reproduz sem chama e está entregue aos interesses parasitários, para além de se confrontar com uma oposição incapaz de romper com o quadro pegajoso vigente;

c) Nas Caldas da Rainha, há pessoas que vêem a política para além dos partidos e recusam as lógicas nacionais, trituradoras da autonomia local. Há poucas semanas, estive presente – e procurei dar um sentido – a uma reunião muito participada, onde, pese a desinformação absurda que depois foi difundida sobre ela, se estabeleceram algumas bases e enquadramentos para se poder avançar com um programa de emergência cidadã, e a partir deste certamente constituir uma candidatura cidadã aos órgãos eleitos locais. Mas, quando se não percebeu que a Cidadania é um processo de iguais, onde o reconhecimento das capacidades, discursos e potencialidades de equacionar a polis não passa por grupos preestabelecidos ou por pequenas ambições pessoais, põe-se então em causa um projecto diferente, que as Caldas precisam, porque estão doentes, a precisar de ir a Termas.

2-E agora?

a) O Hospital Termal, de águas temperadas e com capacidades curativas para os corpos e regeneração para os espíritos, deve ser o foco das atenções dos Caldenses e de recuperação da Cidadania. Será em torno de um discurso substancioso e construído com o conhecimento da arquitectura da cidade – também termal –, com a lógica da água a correr, respeitando os nossos mares, a nossas magníficas zonas húmidas e dando mais húmus aos campos (reenquadrando as suas actividades) e criando inteligência e articulações com a indústria e o comércio, saindo do concelho para a macrorregião, é assim que se poderá construir Poder nas Caldas da Rainha.

b) O Poder a partir da Cidadania activa deve, antes do mais, ter a clareza do tempo e da honra de quem o constrói, a capacidade e o discurso da sua transformação.

E a transparência! Muita transparência! Lamentavelmente, tudo isso, tudo isso mesmo, foi deitado ao lixo. Será ainda possível reciclar o futuro próximo?

c) Creio que há ainda uma luz ao fundo do túnel, para o Termalismo e para a Cidadania nas Caldas. O método deve ser diferente daquele tentado há semanas, aproveitando os melhores, aqueles que, sem necessidade do Poder, podem fazer diferente, com a conquista democrática do Poder, com a criatividade das práticas políticas já experimentadas noutros locais, mas trazendo para o debate o que diferencia as Caldas no País.

O compromisso com um programa está estabelecido. O enquadramento cívico para esse também é claro.

A liderança, e foi tema que referi na reunião mencionada  só deveria ser articulada depois desse, sendo que era obvio para todos os participantes,  terá que ser de alguém conhecedor do Termalismo, com experiência profissional relevante e experiência da vida autárquica local, para quem a política seja uma afirmação de cidadania e continuidade da sua sustentabilidade.

“À Volta das Termas”, será onde se poderá desenvolver, ainda vamos a tempo, um projecto que rompa com a doença cívica que gangrena Caldas.

d) Para esse projecto, pese os muitos compromissos que me ultrapassam, desde já aqui manifesto a minha aspiração.

António Eloy

1 COMENTÁRIO

  1. António Eloy tem razão, ao ligar a defesa de Caldas da Rainha como cidade termal a uma nova cidadania que transcenda as actuais forças partidárias, mas tenho como importante (até por viver fora da cidade) que é imprescindível encarar Caldas da Rainha como um concelho completo com um potencial turístico enorme, do oceano e das praias ao interior rural, e não apenas como uma cidade com termas.