Estudo da Refer de 2010 previa investimento de 161 milhões de euros na modernização da linha

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Gestora de infra-estruturas ferroviárias tem desde 2010 um projecto de 161 milhões de euros para electrificar e instalar sinalização electrónica na linha do Oeste.

Em 2010 a Refer elaborou um estudo para a modernização da linha do Oeste no qual previa investir 161 milhões de euros para a electrificar toda e dotá-la com sistemas modernos de sinalização e telecomunicações.
O referido documento, intitulado “Dossier de decisão do projecto de modernização da linha do Oeste” previa que esse investimento fosse realizado em duas fases: primeiro entre Meleças e Caldas da Rainha (81,6 milhões de euros) e uma segunda desta cidade até Louriçal, no valor de 79,4 milhões de euros.
O projecto prevê a construção de dois desvios activos a sul de Torres Vedras para suavizar a sinuosidade do traçado e a construção de uma nova estação em S. Mamede (Bombarral). Na realidade trata-se de reactivar aquela estação – que ainda existe – porque a Refer fechou-a deixando um cantão entre Bombarral e Caldas da Rainha sem qualquer possibilidade de efectuar cruzamentos.
A mesma empresa diz que este projecto permitiria reduzir o tempo de percurso entre Caldas da Rainha e Lisboa das actuais 1 hora e 40 minutos para menos de 1 hora e 30 minutos. Um tempo que o documento considera competitivo com a rodovia, apesar de os autocarros só demorarem 1 hora e 10 minutos entre Caldas e Sete Rios.
Do ponto de vista económico, a Refer diz que o projecto seria rentável. Actualmente, a taxa de cobertura dos custos pelos proveitos na linha do Oeste é de 27%. Ou seja: por cada euro que custa o funcionamento desta linha, a Refer só recebe 27 cêntimos de receita da taxa de uso (portagem ferroviária paga pela CP).
Parece pouco, mas, na verdade é um valor que está em linha com a taxa de cobertura da rede ferroviária nacional, que em 2010 (antes da recente vaga de encerramentos de vias férreas) rondava os 26%.
Após a modernização, a empresa estima aumentar a taxa de cobertura do corredor do Oeste de 27 para 32%.
Na estrutura de custos, a Refer revela que 34% são encargos com o pessoal, um valor que pode diminuir radicalmente com a modernização, quando os ferroviários que guarnecem as estações forem substituídos por meios electrónicos. Se tal acontecer, porém, as estações ficarão abandonadas e a sua vandalização e degradação serão inevitáveis pelo que convinha que a empresa e a autarquia pensassem já em soluções para as manter com vida.
A calendarização da modernização do caminho-de-ferro do Oeste previa que esta tivesse início no segundo semestre de 2010 e ficasse concluída no final de 2014.

Um estudo tão “secreto” que até a CP o desconhece
O acesso ao “dossier de decisão” da Refer foi inicialmente recusado por esta empresa o considerar um “documento interno de trabalho”. Só após uma deliberação da CADA (Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos) favorável à sua divulgação, é que a empresa aceitou abrir mão do secretismo que rodeava este estudo.
Um secretismo tão grande que até a própria CP, aparentemente, desconhecia. Pelo menos é que afirma o presidente desta empresa, Manuel Queiró que, num documento escrita, reconhece que nada sabe sobre este estudo.
No entanto, este documento só poderia ter sido realizado pela Refer com a colaboração da própria CP pois parte das informações sobre a procura nesta linha só poderia ter sido fornecida pelo operador. O mesmo que é também o beneficiário dos investimentos que a Refer se propôs fazer.
O documento não poupa a CP quando diz que “os horários estão desajustados às necessidades dos clientes” e que o material circulante “é inadequado tanto ao nível das características técnicas que permitem reduzir os tempos de viagem, quer ao nível do conforto”. E por isso a Refer começa logo por dizer que este projecto tem subjacente uma “perspectiva de sistema” entre o gestor da infra-estrutura e o operador, conjugando as melhorias na linha com melhoria do lado da oferta. Algo para o qual o propõe mesmo a “formalização de um compromisso entre Refer e CP”.
Três anos depois a falta de sintonia entre estas duas empresas públicas mantém-se, a julgar pelo episódio recente do adiamento dos horários na linha do Oeste, que deveriam ter entrado em vigor em Julho e foram adiados para Setembro porque as duas empresas não se entenderam do ponto de vista técnico para implementar o novo serviço.
Aguarda-se que em Setembro CP e Refer convirjam para que a linha do Oeste inverta a situação de definhamento e apresente uma nova oferta que potencie a sua procura.
A CP estima que os novos horários lhe permitirão poupar mais de 700 mil euros por ano.

Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt

1 COMENTÁRIO

  1. ‘Dossier’….!
    Uma palavra francesa desnecessaria para que?
    Não seria melhor escrever em portugues?
    Essa palavra estrangeira é para mostrar que sabe frances,um desamor à lingua portuguesa ou simplesmente vaidade?
    Talvez um complexo de inferioridade com a lingua francesa.
    Os portugueses são os servis do idioma frances…!