Faleceu no passado fim de semana, o ceramista Francisco Jorge Furriel, aos 88 anos. Natural do Alqueidão da Serra, este autor, que foi pintor, escultor e ceramista, começou a trabalhar na Secla nas Caldas da Rainha em 1953.
Estudou até à quarta classe na sua terra natal, chegando a frequentar a Escola Comercial de Leiria, mas por causa de uma queda teve que permanecer em casa três meses e já não voltou às aulas. Enquanto convalescia da queda, Furriel construiu uma miniatura do Mosteiro da Batalha, tendo concorrido a uma primeira exposição de arte que se realizou em 1951 em Lisboa, tendo sido premiado. E foi com uma fotografia da tal miniatura que se apresentou na Fábrica Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha onde lhe quiseram logo dar trabalho. Só que, por conselho de um amigo do Alqueidão da Serra, preferiu a Secla pois este disse-lhe que esta última era uma empresa mais moderna e que já exportava para o mercado internacional.
Francisco Furriel ali laborou durante várias décadas e chegou a chefiar a secção de pintura. Nos tempos livres, Furriel dedicava-se também à pintura, à escultura e também à geologia e arqueologia.
Quando a Secla encerrou já reformado há vários anos, partilhou com a Gazeta o quão lhe custava a crer “que a firma ia fechar”. Recordava nestas páginas que integrou várias secções. Esculpiu, modelou e fez outras tarefas, mas a sua área preferencial sempre foi a pintura cerâmica. Nos últimos 17 anos em que lá esteve, chefiou esta secção e “ensinei muitos pintores a trabalhar”, recordando que as muitas centenas de pessoas que lá labutavam eram “como uma família”.
Para este autor, as figuras mais importantes que por lá passaram “foram a Hansi Stael, uma das primeiras grandes mestres de cerâmica, que foi uma das grandes renovadoras da cerâmica caldense”. Segundo Furriel, ela renovou tudo, desde ao técnicas aos processos da cerâmica.
“Foi uma grande mestra para mim, para Herculano Elias, Ferreira da Silva e para todos os que lá passaram”, afirmou. O pintor cerâmico recordou os primeiros anos da SECLA em que os funcionários faziam ginástica, desporto e cantavam “e o próprio patrão, Alberto Pinto Ribeiro, era um grande entusiasta dessas actividades extra”.
Ponte e Sousa, o outro sócio que se juntou a Pinto Ribeiro com o capital necessário, era também “um bom artista, um bom patrão, também modelava bem e fez bem o seu papel”.
Tinha então muita pena que a empresa fechasse, “não por mim, mas porque ainda faz falta a muita gente”.
Francisco Furriel acha que a Secla foi “uma grande escola para modeladores, pintores e até para técnicos de cerâmica”. Destes últimos, muitos dos melhores profissionais do país passaram por esta empresa, tendo sido Pinto Ribeiro o principal formador que os ensinou.
Um museu na terra natal
Furriel actualmente vivia em Alqueidão da Serra, sua terra natal, pela qual demonstrou sempre grande carinho e interesse tendo sido autor de uma monografia sobre o concelho de Porto de Mós de que fazia parte, que designou “Da Pré História à Actualidade”, em três volumes. E foi naquela localidade também que criou o museu de História Natural, onde reuniu peças oriundas de todo o concelho como fósseis, pedras e alfaias agrícolas. Furriel obteve o apoio da autarquia sobre este projecto que deu a conhecer nas páginas da Gazeta quer em artigos de sua autoria quer em entrevistas concedidas em diferentes épocas.
Eram muitas as suas áreas de interesse, defendendo vários aspectos relacionados com a cerâmica e com os ceramistas. Gazeta das Caldas recorda, por exemplo, quando se realizou a homenagem a João Reis no Cencal, Furriel fez questão de levar um óleo dedicado àquele artista que esteve exposto durante a sessão.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt
Marcou a indústria cerâmica caldense
Os leitores da Gazeta das Cadas há várias décadas conheciam as suas crónicas assinadas pela sigla FRANJORFU, onde ele dissertava sobre as mais variadas temáticas, mas especialmente sobre os temas da arqueologia e paleontologia, área que ele nunca abandonou porque tinha uma paixão enorme.
Também a cerâmica e a pintura cerâmica foi cultivada muitos anos, o que nos permitiu conhecê-lo e manter com ele laços de amizade, estima e grande respeito profissional.
Há poucas semanas tivemos o ensejo de conhecer através da internet o seu neto, médico urologista nos Hospitais da Universidade de Coimbra, com quem trocámos algumas mensagens, tendo inclusive lhe pedido recentemente para lhe transmitir os nossos cumprimentos e saudações.
Infelizmente no passado fim de semana o Dr. Frederico Furriel comunicou-nos que repentinamente o seu avô nos tinha deixado. Fica aqui um elogio póstumo ao seu trabalho persistente enquanto profissional na SECLA e como interessado na coisa pública no sociedade caldense, como na Lourinhã e nos últimos anos na sua terra natal, Alqueidão da Serra.
Mais uma figura ligado à cerâmica que marcou a indústria caldense no século passado que nos deixa. Sentidos pêsames à sua família.
JLAS