Ser agricultor não basta. Também é preciso ser-se empresário.

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Apostar na agricultura, mas de forma organizada e com conhecimentos das boas práticas, para que esta actividade não se transforme em desilusão foi um dos conselhos deixados aos jovens agricultores pelos especialistas que participaram, na noite de 22 de Fevereiro, num debate no Landal, que contou com a participação do secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Nuno Brito.

O sector primário está actualmente a passar por uma “profunda reestruturação”. A afirmação foi do secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Nuno Brito, que destacou que a agricultura de subsistência está a ser substituída por fileiras mais produtivas e competitivas, como é o caso da fruta, do vinho, dos hortícolas e das flores.
“Deixámos de ser todos agricultores para passarmos a ser empresários agrícolas, em que tem que haver uma aposta desde a produção à venda, passando pelo marketing”, disse, dando nota dos apoios comunitários que existem para apoio neste sector.
De acordo com Nuno Brito, o novo quadro comunitário irá estimular a inovação ao nível da criação de novos produtos e a sua transformação. E deu um exemplo prático: Portugal é um dos países auto suficientes  na produção de leite, mas é um grande importador de iogurtes, pelo que é preciso inverter esta tendência.
Outra das apostas que tem que ser feita é na internacionalização. “O mercado nacional é pequeno, temos que olhar para o aumento de competitividade além das nossas fronteiras”, salientou o governante, defendendo um olhar especial para as economias emergentes, nomeadamente o Brasil e Angola, para onde tem crescido as exportações de azeite e vinho, respectivamente.
De acordo com o engenheiro agrónomo e consultor José Martino “a agricultura está na moda porque estamos em crise e também porque nos últimos anos os agricultores passaram a saber quando podem receber as ajudas e isso dá-lhes confiança”.
O orador incentivou os jovens agricultores a apostar na produção de pequenos frutos (morangos, mirtilos, amoras, kiwis) e nas plantas aromáticas, onde o “potencial de ganhar dinheiro é maior”. Até porque, alertou, actualmente, e salvo algumas excepções, perde-se dinheiro com a agricultura pois esta assenta num modelo de desenvolvimento económico errado.
José Martino considera que o desafio que se coloca actualmente aos agricultores é que estes percebam que têm que dar o salto para serem empresários agrícolas, tornando-se mais organizados e “curiosos”, tentando aprofundar ao máximo o conhecimento no negócio que possuem.

VOCAÇÃO E CONHECIMENTOS

“A agricultura é uma actividade difícil e se não tivermos vocação e conhecimentos, a moda dá lugar à desilusão”, disse, incentivando os jovens a apostar na área, mas de forma organizada.
O empresário agrícola e gestor da empresa Frutas Classe, Sérgio Constantino, partilhou a sua experiência, sobretudo na produção de morangos, desde 2005. Antes a actividade desta empresa familiar destinava-se essencialmente à produção de fruticultura.
A opção pelos morangos foi acompanhada pela escolha do local onde iam produzir, que recaiu sobre o Bouro (nas Caldas da Rainha), na zona Oeste, que é considerada, a par com a Califórnia, dos melhores locais no mundo para a produção destes frutos.
Antes de investir, os empresários fizeram “o trabalho de casa”, com diversas visitas a explorações agrícolas na Europa. “As nossas dificuldades foram sempre a escala”, disse o empresário, adiantando que ter uma maior capacidade de oferta implica sempre um maior investimento.
Esta iniciativa, organizada pela comissão politica da JP concelhia das Caldas da Rainha, pretendeu esclarecer os jovens sobre as potencialidades da agricultura e quais os riscos e apoios com que os jovens devem contar quando escolhem esta profissão.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt