Incerteza quanto ao futuro do Hospital de Peniche motiva carta aberta ao ministro da Saúde

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ReuniaoPopulacaoCansadas da ausência de resposta ao pedido de audiência feito há largos meses onde se esperava que o ministro da Saúde esclarecesse de uma vez por todas o que acontecerá ao Hospital de Peniche, a Câmara e a Assembleia Municipal decidiram ir até ao ministério entregar em mãos uma carta aberta. Uma missiva de três páginas na qual voltam a manifestar a sua preocupação com o futuro do hospital local, onde se assiste “a uma degradação acelerada de serviços e equipamentos” que “põe em causa a funcionalidade e eficácia que se espera num serviço de saúde, num território que tem o mar imenso como porta de entrada e o turismo como referência de desenvolvimento económico”.
Desde 2007 que a população penichense luta contra o encerramento da urgência hospitalar local. Uma hipótese que nos últimos anos ganhou ainda mais força com o processo de reorganização hospitalar em curso que, na região, se traduziu na controversa junção dos hospitais de Caldas, Peniche e Torres Vedras no Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
Garantindo não estar contra alterações que visem a optimização de meios e recursos, os representantes das estruturas autárquicas penichenses manifestam “desagrado e frustração, por se continuarem a tomar decisões sobre o nosso hospital, sem que a população esteja minimamente informada do que se está a passar”, ao mesmo tempo que “continuam por cumprir as promessas que foram feitas de valorização do hospital”.
Na missiva, critica-se ainda a falta de informação formal sobre quais as alterações que efectivamente se vão verificar no Hospital de Peniche, o território que “mais sente porventura a desorganização que se vive na resposta hospitalar”, que se reflecte na “manifesta incapacidade de resposta” que prejudica os utentes. E exige-se que as populações sejam devidamente informadas sobre o processo de reorganização, “onde a palavra de ordem parece ser desmantelar, sem primeiro salvaguardar que as populações continuam a ser tratadas com a qualidade e dignidade que constitucionalmente são garantidas aos cidadãos”.

“É a ditadura
do neo-liberalismo”

À Gazeta das Caldas, o presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, diz que “é inadmissível” que o ministro não receba os representantes da população e que a Câmara ainda não tenha recebido o documento final onde está delineada a reorganização hospitalar na região, caindo por terra a promessa que lhe tinha sido feita por parte dos secretários de Estado da tutela. “Isto não é uma República das Bananas. Este ministro deve estar enganado no país em que está”, sublinha, acusando o governo de estar a seguir o caminho da “ditadura do neo-liberalismo”.
A crítica estende-se ainda aos responsáveis das estruturas hospitalares. “Estão-se nas tintas para as leis da República”, aponta, dizendo que a prova disso mesmo é o facto de o Conselho Consultivo do CHO nunca ter reunido.
“Não temos documento final, nem fundamentos, nem nada. Foram prometidas obras, nunca foram feitas, e nós continuamos sem saber nada”, lamenta o autarca ao mesmo tempo que aponta a necessidade de manter as urgências de Peniche a funcionar, tanto mais dada a falta de capacidade das urgências das Caldas que “estão a rebentar pelas costuras”.
A Carta Aberta foi entregue no passado dia 22 de Julho à secretária geral do Ministério da Saúde e foi ainda distribuída a toda a população de Peniche. Uma semana depois, aquando do fecho desta edição, a autarquia não tinha ainda recebido qualquer resposta por parte da tutela.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt