Cigarros electrónicos já chegaram às Caldas

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ecigarOs e-cigarros, como também são conhecidos, chegaram às Caldas há poucos meses e para a maioria das pessoas ainda representam uma novidade. Contudo, na opinião dos vendedores, o negócio tem tido cada vez mais procura, essencialmente devido às vantagens que os cigarros electrónicos apresentam relativamente aos cigarros tradicionais. Com este novo cigarro, que também contém nicotina, o fumador não tem que se preocupar mais com o mau hálito ou com o odor do fumo causados pelo típico cigarro, podendo ainda optar por uma variada gama de sabores sem gastar tanto dinheiro. Além disso, dentro dos constituintes dos e-cigarros não entram os produtos resultantes da combustão do tabaco, como o alcatrão, que é cancerígeno, ou o monóxido de carbono, altamente tóxico.
Ainda são muitos os caldenses que, ao passarem por uma loja de cigarros electrónicos perguntam em voz alta “O que é isto?”, mas a maioria ainda segue caminho e não chega a entrar para esclarecer as suas dúvidas. Recentemente, abriram nas Caldas três estabelecimentos comerciais que vendem os e-cigarros: a Vapor d’ Água, a E-Cigarros Fumar Diferente e a Smokisso-Cigarro Electrónico. Gazeta das Caldas visitou-os para descobrir, afinal, como funciona o “cigarro saudável”.

Como funciona o e-cigarro

Suse Fernandes, do espaço “E-cigarros fumar diferente” – que abriu as portas há um mês – é bastante objectiva na sua explicação, afirmando que “embora ao início pareça complicado, é tudo uma questão de hábito”. O cigarro electrónico é constituído por uma bateria, que se carrega tal e qual como um telemóvel, e à qual é enroscada um vaporizador, onde irá ser colocado o e-líquido com o aroma que o cliente escolher. Depois, basta apertar o botão do cigarro e “fumar”, ou melhor, “vaporar”, como vão corrigindo alguns comerciantes.
Quanto ao e-líquido, a sua base é composta por nicotina, que pode ser doseada consoante a necessidade do consumidor, propilenoglicol, substância responsável pelo fumo que se forma, e a glicerina vegetal, que intensifica o aroma.
Por falar em aromas, há para todos os gostos e a variedade é quase maior que nas pastilhas elásticas. O sabor a tabaco é aquele que costuma ser escolhido em primeiro lugar, por quem experimenta o e-cigarro, mas também existe a gama dos frutados – maçã, maracujá, morango, framboesa ou melão –, os sabores mais doces, como o chocolate, o caramelo e o sabor a gelado, e os mais improváveis, que é o caso do sabor a mojito, a café ou a uma bebida energética (semelhante ao redbull).
Relativamente aos custos, estes variam muito pouco de loja para loja. Em média, os kits de iniciação, que trazem o e-cigarro e respectivo carregador, rondam os 20 a 30 euros, enquanto o preço dos e-líquidos vão dos cinco aos seis euros. Contudo, apesar do investimento inicial, o cigarro electrónico acaba por se tornar economicamente mais rentável pois tem a durabilidade de vários meses e é “alimentado” pelo e-líquido, que pode render mais de três dias, consoante o tempo de consumo de cada cliente.

“Não faz bem à saúde, mas é mais saudável”

Não existe um cliente-tipo do e-cigarro, mas Suse Fernandes contou à Gazeta das Caldas que “as pessoas entre os 25 e os 45 anos são as que mais procuram o produto”, por terem intenção de reduzir o consumo do tabaco tradicional. A maioria já está informada sobre o e-cigarro, mas “aquilo que lhes explicamos é que o cigarro electrónico ajuda na redução do tabaco comum, mas que serve essencialmente para uma pessoa fumar de forma mais saudável”, acrescentou.
Já o público jovem, se procura o e-cigarro, ainda se deve muito ao “estilo” associado ao produto, uma vez que este apresenta um design apelativo, com um vasto leque de cores, e ainda padrões, para quem gosta de ser mais criativo, conta a mesma comerciante. Por outro lado, para os mais idosos, “o e-cigarro é ainda uma novidade, algo desconhecido e, por isso, muitos ainda ficam de pés atrás em experimentar”.
Ao entrarmos na Vapor d’Água, estabelecimento franchisado que tem dois meses nas Caldas, Salomé Vieira, funcionária, apressa-se em esclarecer que “nunca ninguém afirmou que o e-cigarro faz bem à saúde, porque o mais saudável é a pessoa não fumar nada. Contudo, entre escolher o cigarro tradicional e o e-cigarro, que se escolha o último, pois faz muito menos mal”. Estão cerca de cinco clientes na loja, alguns menos convencidos, porque vêm pela primeira vez e afirmam que o “gosto” do e-cigarro é muito diferente do cigarro tradicional. No entanto, os clientes que já adquiriram o e-cigarro há algum tempo, e hoje vêm apenas para comprar mais e-líquido, contam a sua experiência, revelando que só custa nos primeiros dias porque depois não se quer outra coisa.
Alguns destes ex-fumadores de cigarros ainda têm tabaco guardado, mas afirmam que nem sentem necessidade de procurá-lo e, outros contam que já não têm que ir até à janela fumar e podem fazê-lo dentro de casa “pois o fumo não tem cheiro e dissipa-se em segundos, o que facilitou a vida de todos em casa”. Mas, uma das desvantagens que apontam é o facto de não conseguirem controlar exactamente o que fumam, porque o e-líquido não se esgota no momento, como um cigarro.
No entanto, nem todos os fumadores procuram o cigarro electrónico para deixaram o tradicional, como nos conta outro cliente (que não quis ser identificado), acabado de sair da Vapor d’Água com um kit de iniciação. “Isto é apenas uma experiência, como tantas outras, e o principal objetivo é mesmo experimentar. Se puder reduzir, muito bem, mas não foi esse o motivo que me trouxe aqui. Já a minha mulher, por exemplo, acredito que compre o e-cigarro pelo estilo, para fumar quando está com as amigas”.
A poucos metros, encontra-se a Smokisso, que abriu apenas há três semanas. O seu proprietário, Abílio Caetano é emigrante em França, mas veio para ficar e investir neste negócio, “que ainda está pouco desenvolvido em Portugal, comparando-o com outros países”. Relativamente à recente onda de notícias negativas sobre os cigarros electrónicos, que afirmam que o e-líquido também pode conter substâncias nocivas, cujos efeitos são ainda desconhecidos, o empresário comenta que já estava à espera do alarido. “Há três ou quatro anos, em França, quando o e-cigarro apareceu, foi a mesma coisa, porque há sempre desconfiança perante um produto novo”, disse, acrescentando que não está muito preocupado, porque no final, as conclusões vão ser as mesmas: o e-cigarro nunca será tão prejudicial como o cigarro tradicional.
Apesar de ainda não ter um grande “feedback” dos seus clientes, por ter inaugurado o estabelecimento há tão pouco tempo, o comerciante afirmou que o e-cigarro pode ser realmente uma ajuda para quem quer deixar o cigarro tradicional, já que é possível regular a dose de nicotina. Abílio Caetano explicou à Gazeta das Caldas que a dose inicial deve ser igual à consumida no maço de tabaco tradicional, “para que o cliente possa ficar saciado e não vá à procura do outro cigarro”. Depois, é uma questão de se ir reduzindo a dose de nicotina, até que o consumidor “fume” apenas o e-liquído, sem qualquer adição de nicotina, mas consiga manter o chamado “vício físico, que consiste no gesto de levar o cigarro à boca, ver o fumo e sentir aquele travo na garganta”. Quando já se está nesta etapa, o passo para deixar de fumar é muito mais fácil, garante o empresário.

Falta de legislação

A Comissão Europeia já aprovou uma nova directiva para os produtos de tabaco, que também abrange os cigarros electrónicos, mas em Portugal a legislação pode entrar em vigor apenas em 2016. Até lá, todas as limitações ao tabaco na lei portuguesa não se aplicam ao cigarro electrónico, porque este não contém a folha do tabaco. Mas, quando forem abrangidos pela legislação, os e-cigarros passarão a cumprir novas regras, como a explicitação criteriosa dos seus ingredientes, avisos sobre os seus malefícios para a saúde e restrições quanto à sua publicidade.
Apesar de não existir nenhuma norma que proiba a venda dos e-cigarros a menores, todos os comerciantes afirmaram que têm o cuidado de não o fazer, “porque é do bom senso de cada um compreender que existem certos produtos que só devem ser vendidos a maiores de 18 anos”, salienta Salomé Vieira da Vapor d’Água. Do mesmo modo, a comerciante acrescenta que a “legislação deveria essencialmente incidir no controlo de qualidade dos líquidos que são produzidos e vendidos, para que a segurança se mantivesse”.

Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt