Um caldense à frente dos destinos da Escola de Turismo e Tecnologias do Mar

0
624

responsaveisPaulo Almeida, de 48 anos, é o director da ESTM (Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche), que está a comemorar os seus 15 anos. Criada em 5 de Março de 2001, abriu com 90 alunos e tem hoje cerca de 1300. A sua oferta inclui nove licenciaturas e oito mestrados nas áreas do turismo e das ciências e tecnologias do mar.
Situada junto ao Cabo Carvoeiro, é a escola superior mais ocidental da Europa e também a única, a nível nacional, que está dentro da área de uma reserva da biosfera da Unesco, neste caso a da Berlenga. A investigação ligada ao mar e ao turismo envolve professores e alunos e já surgiram diversos produtos, alguns deles já comercializados por empresas, revelando-se como produtos de valor acrescentado.
A cerimónia comemorativa dos 15 anos desta escola terá lugar a 15 de Outubro.

 

Natural das Caldas, Paulo Almeida, está na ESTM desde que para lá foi leccionar as primeiras disciplinas em Hotelaria, em 2001. “Sou das primeiras 10 pessoas licenciadas em Hotelaria no país”, disse à Gazeta das Caldas, contando que chegou à escola depois de ter respondido a um anúncio de jornal. Treze anos depois foi eleito director da escola, tendo como subdirectores Sérgio Leandro e António Sérgio de Almeida.
“Procuramos sempre que possível ligar as áreas da formação e da investigação, potenciando valências de cada área em projectos que possam ser comuns”, destaca o responsável, dando como exemplo o projeto dos celíacos, que prevê a ligação entre a Biologia, a Biotecnologia, a área alimentar e a área da restauração e catering.
Desde 2007 que a ESTM organiza um congresso internacional de turismo. No ano passado conseguiu trazer a Peniche cerca de 200 investigadores de 32 países. Graças ao impacto que teve, o congresso acabou por se internacionalizar e este ano será realizado em Omã, em Dezembro.

Ligação à realidade regional

Mas contemos um pouco a história da ESTM, em Peniche, irmã gémea da caldense ESAD, ambas sob o chapéu do Instituto Politécnico de Leiria (IPL). A escola sediada em Peniche assinala este ano lectivo 15 anos de actividade, enquanto que a escola caldense se apresta a comemorar o seu quarto de século no próximo ano.
A mais recente aposta é uma unidade de investigação de surf – Surfing Research Unit (SRU), apresentada no passado dia 30 de Setembro, que pretende fomentar a pesquisa em turismo e sustentabilidade em zonas costeiras. Esta é uma das duas únicas unidades de investigação nesta área a nível mundial e já estão a ser desenvolvidos esforços para a concretização de uma parceria com o Center for Surfing Research da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos.
O objectivo é que possam ter uma “abordagem colaborativa, construindo e alimentando parcerias, tanto a nível nacional como internacional, capitalizando a riqueza intelectual e a capacidade institucional que o IPL pode trazer para o estudo e compreensão da sustentabilidade no turismo”, destaca João Paulo Jorge, coordenador da SRU e docente na ESTM.
De acordo com este professor, a importância atribuída aos desportos de ondas tem vindo a crescer, não só em termos desportivos, mas também na afirmação de territórios e como factor de promoção junto de mercados internacionais. “Contudo, é uma área que carece de uma maior atenção por parte da academia”, faz notar.
A Surfing Research Unit dará apoio a algumas dissertações de mestrado em desenvolvimento, destacando-se a publicação do estudo do impacto do Rip Curl Pro 2013 Portugal, uma prova emblemática do campeonato do Mundo de Surf. Outro projeto piloto em desenvolvimento é o Eco Based Beaches, no âmbito do programa PROMAR, que tem como finalidade criar um sistema informativo para o uso ecoturístico das praias, que irá incidir nas mais procuradas para uso balnear e para a prática de surf.
Insectos comestíveis e gelado de algas

As experiências gastronómicas com insectos são outro projeto de investigação em curso. Minhocas, grilos e gafanhotos são alguns dos “ingredientes” que estão a ser testados naquela escola para serem incluídos na alimentação, devido aos seus elevados níveis de proteína, gorduras insaturadas e minerais, seguindo os exemplos de outros países.
Na área da gastronomia a escola tem também interesse no food design, equacionando uma possível parceria com a ESAD ou com a Escola de Hotelaria e Turismo, para o desenvolvimento de uma pós-graduação.
Para além das cozinhas, devidamente equipadas, existem também salas de provas e laboratórios de análise sensorial. “Ensinamos os alunos a provar e estamos abertos às empresas que queiram vir aqui colocar um produto alimentar ou bebida para analisar”, explica o director, Paulo Almeida, especificando que também podem ajustar os ingredientes para um qualquer produto pretendido.
Ligado a estes está também o laboratório de tecnologia alimentar onde é testada a conservação dos alimentos, sua embalagem e oxidação. É aqui que nasceram alguns produtos originais, como o hambúrguer de peixe ou o gelado de kefir. Este último é feito à base de micro algas marinhas, sendo um produto saudável e, inclusivamente, adequado para consumidores intolerantes a lactose. O gelado de kefir já se encontra a ser comercializado por uma empresa da Figueira da Foz.
Há também o azeite aromatizado com algas, que já está no mercado e é muito virado para a exportação. “Temos apostado muito na ligação com as empresas, nos apoios do QREN ao nível da inovação e desenvolvimento tecnológico, em que as empresas contratam connosco um problema ou procura de novos produtos e nós tentamos dar resposta”, resume o director.
A escola prepara-se agora para trabalhar na criação do biscoito de chícharo, com uma empresa e a Câmara de Alvaiázere. Trata-se de um produto típico daquela região, mas com pouco valor comercial, pelo que a equipa de investigadores vai produzir um biscoito com aquele produto e depois certificá-lo para o poder valorizar.
A decorrer está também o projecto Cozinha sem Glúten”. A primeira fase é dedicada à formação dos estudantes e à criação de um espaço de reflexão, seguindo-se a realização de ementas sujeitas a concurso. Depois haverá um encontro nacional de celíacos, onde estarão a concurso as melhores ementas seleccionadas que serão publicadas num e-book.

Aposta na aquacultura

A ESTM tem procurado desenvolver a sua identidade com o mar, potenciando todos os recursos que este oferece. Um dos projectos em curso é o aproveitamento de crustáceos para a produção de bio polidos. “Falamos, no topo, ao nível da indústria farmacêutica e da medicina, mas pode ser aplicado ao nível do tratamento das águas residuais, da agricultura, pois é considerado bio pesticida ou bio fertilizante”, informa, sobre o novo valor que estão a tentar dar a este recurso.
Por exemplo, o caranguejo, que actualmente é pouco utilizado e em certos momentos do ano torna-se uma praga, poderá ser aproveitado, assim como os resíduos provenientes do descasque do camarão.
“A questão do caranguejo pilado é importante a nível local porque pode diversificar a captura das espécies, não para o consumo, mas para a biotecnologia que é uma área emergente e que pode conferir alguma sustentabilidade às comunidades piscatórias”, destaca Paulo Almeida.
Todos estes projectos de investigação nas áreas da biotecnologia, biologia marinha e turismo assentam em dois grupos de investigação sediados na escola – O GIRO (Grupo de Investigação em Recursos Marinhos) e o GITUR (Grupo de Investigação em Turismo), ambos com membros efectivos, todos doutorados e professores da casa.
Grande parte da investigação aplicada aos recursos marinhos (seja na área da biotecnologia como da aquacultura e parte alimentar) será agora concentrada no edifício Cetemares, na zona portuária de Peniche, permitindo uma maior proximidade à comunidade e às actividades económicas relacionadas com o mar. Por exemplo, para poder ter água salgada nos seus tanques, a escola tinha que pedir aos bombeiros para encher os depósitos, enquanto que no novo edifício têm um furo que a abastece directamente.
Existe também um espaço dedicado à aquacultura onde se investiga a criação e reprodução de espécies piscícolas.
“Podemos produzir robalos, douradas e corvinas, mas também olhar para oportunidades na aquacultura ao nível das ornamentais [peixes de aquário], que têm um valor de mercado”, realça Paulo Leandro, sub-director da escola.
De acordo com o responsável, há uma grande procura, a nível mundial por estes produtos, tendo a escola já sido contactada por vários empresários que querem investir na aquacultura, em diferentes espécies.

O hotel-escola

Com as obras de ampliação da escola, que tiveram lugar em 2011, foi criado um hotel-escola, equipado com 25 quartos duplos e que é ocupado essencialmente por alunos bolseiros. Há ainda um quarto que serve para aulas práticas direccionadas para alojamento.
O restaurante tem capacidade para 80 lugares e sempre que há um congresso ou conferência, os alunos de restauração são envolvidos e confeccionam e servem as refeições. Existe ainda uma cozinha industrial que dá apoio e complementa a outra cozinha, onde os alunos podem trabalhar.
A escola também cede alojamento, alimentação e salas de formação para entidades exteriores.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt