“Em Londres a cultura e até os artistas de rua são encarados como uma mais valia para a cidade”

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Ana Filipa da Silva Pinto
Caldas da Rainha
28 anos
Redhill, Surrey, Inglaterra
Designer, auxiliar de fotógrafo
Percurso Escolar: Escola Raul Proença, ESAD, East Surrey College

O que mais gosta do país onde vive?
O que eu mais gosto é o respeito que há pelas pessoas, pelo trabalhador esforçado, pela terceira idade e pelos mais desfavorecidos, ou com necessidades especiais. Há um cuidado especial com quem mais precisa a nível de subsídios, passes de transporte, ajudas na renda de casa, e isso reflecte-se na população da Inglaterra pois cada casal tem pelo menos três filhos.
A Natureza é onde mais me identifico. Aqui nos arredores de Londres, zona a que por vezes se dá o nome de Zona dos Ingleses, todas as casas têm jardins cuidados e o próprio clima ajuda a que se mantenham sempre verdes. Existem jardins por todo o lado, com baloiço para crianças e alguns deles com espaços também para adultos.
A cultura e até os artistas de rua são encarados como uma mais valia para a cidade. Aqui a cultura tem vida e é valorizada. O que se reflecte numa população mais culta e informada.
A preocupação com a saúde e bem estar foi algo que me impressionou desde o inicio. Não estava habituada a ver pessoas a fazerem exercício (correr) na rua a toda a hora, mesmo no centro de Londres.

O que menos aprecia?
O primeiro ano foi muito difícil. O choque cultural é enorme. As saudades da família e dos amigos são muitas, e no início não nos identificamos com nada. Parece ser tudo “estranho”. A dificuldade de expressão torna tudo mais complicado também.
Conduzir do lado esquerdo da estrada é pavoroso!  Apesar de neste momento já me ter habituado, conduzir do lado esquerdo da estrada é algo muito estranho no início, pôr as mudanças com a mão esquerda e fazer as rotundas do lado esquerdo é simplesmente “hilariante” nas primeiras semanas.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Tudo. Especialmente do aconchego da família e das conversas com os amigos. Do mar da Foz do Arelho que sempre me inspirou, da praia de areia… Da comida da minha mãe, da comida fresca portuguesa. Do estilo de vida português.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
O dia de amanhã só a Deus pertence, mas eu acredito que irei viver aqui mais alguns anos pois penso que terei mais hipóteses de evoluir na minha área profissional aqui.
A minha esperança é ganhar estabilidade para que possa ir e vir quando quiser.

“Não há subsídios de férias ou Natal, mas o trabalhador esforçado é mais facilmente valorizado”

Tenho uma licenciatura em Design Industrial que tirei na ESAD das Caldas da Rainha equivalente ao British Bachelor (Honours) degree standard. E encontro-me  a estudar em horário pós laboral, Inglês no East Surrey College.
Moro e trabalho no sul de Londres, mais propriamente na zona de Surrey, longe da multidão do Centro. Esta zona está rodeada de jardins e árvores por todo lado. Por vezes penso que vivo dentro de um grande Jardim, o que me agrada muito.
Quando cheguei, em Setembro de 2013, fui morar para a vila de Banstead. Uma semana depois de procurar trabalho e enviar currículos, voluntariei-me para trabalhar no fotógrafo da vila que é agente da Fujifilm. Após uma semana de experiência comecei a trabalhar lá. O tipo de trabalho que faço, para além da impressão digital, tratamento de fotografia, restauração de fotografias e design gráfico, é tentar inovar nos produtos e serviços.
Desde Setembro de 2013 criámos um web-site e uma aplicação para telefone, onde as pessoas podem encomendar fotografias a partir de casa e ou a partir do telefone. Para além disso, apostamos agora, na linha “Gifts” que consiste nos diversos objectos em que podemos imprimir fotografias, canecas, t-shirts, bases de copos, bases para ratos, capas para i-phones. O próximo passo será “as montras criativas”.
O que eu acho extremamente interessante aqui é que os nossos clientes são maioritariamente maiores de 50, e que têm imensa vontade de aprender a tirar fotografias, a utilizar os computadores self-service, e mexer nos i-phones e i-pads que têm. A terceira idade aqui está realmente viva e recomenda-se. É extremamente activa e interessada!
O ordenado mínimo nacional é de 6,31 libras à hora (7,92 euros), não há subsídios de férias ou Natal, mas o trabalhador esforçado é mais facilmente valorizado.
Os preços de casa e dos transportes são realmente mais caros. No entanto, no meu ponto de vista há mais equilíbrio em relação a ordenado – custo de vida do que em Portugal. Paga-se bastantes impostos, nomeadamente imposto de casa.
No entanto, o serviço nacional de saúde NHS é gratuito para residentes. Urgências no Hospital, consultas nos GP (centros de saúde)  e alguns medicamentos estão acessíveis gratuitamente.

Ana Filipa da Silva Pinto