Políticos caldenses cautelosos quanto à detenção de José Sócrates

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socrates2O caso nacional que foi a detenção e posterior prisão preventiva de José Sócrates foi comentado com muita cautela pelos representantes das concelhias caldenses dos partidos políticos. Todos referem que a justiça deverá fazer o seu caminho e a maioria não ousa acusar nem suavizar a situação em que o antigo primeiro-ministro se encontra.
José Sócrates está em prisão preventiva em Évora acusado dos crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais.

“Não usamos práticas estalinistas de tirar quadros da parede” (PS)
“O PS não comenta processos judiciais. Confiamos nas instituições e no seu funcionamento e defendemos valores como a separação de poderes e a presunção da inocência”. Foi desta forma que Sara Velez, da comissão política concelhia caldense do PS, respondeu à detenção de José Sócrates.
De acordo com a responsável, este é o momento da justiça e não o da política. Na sede do partido continuará exposto o quadro com a fotografia de José Sócrates, juntamente com a dos outros secretários gerais do partido. “O PS não usa práticas estalinistas de tirar quadros da parede”, ironizou Sara Velez.

“Fomos todos apanhados de surpresa” (CDS/PP)
Margarida Varela, presidente da concelhia caldense do CDS-PP, referiu que o seu partido respeita a separação de poderes, pelo que a justiça deve ser tratada na esfera da justiça e a política na da política. “São órgãos de soberania independentes, que não devemos interferir com vista a uma maior transparência do sistema judicial”, disse a dirigente partidária.
Margarida Varela soube da detenção do ex-primeiro ministro na passada sexta-feira à noite, quando se encontrava no jantar comemorativo dos 40 anos do CDS/PP, que se realizou em Alcobaça e contou com a presença do líder do partido e actual vice-primeiro ministro, Paulo Portas. “Fomos todos apanhados de surpresa”, disse, acrescentando que ficaram a saber da notícia pelos jornalistas que ali se encontravam.

“António Costa ligou-se a José Sócrates” (PCP)
Vítor Fernandes, dirigente do PCP caldense, foi cauteloso no comentário à detenção do antigo primeiro-ministro. “É uma questão do foro judicial e ninguém é culpado até prova em contrário”, disse. O dirigente comunista disse apenas desejar que a Justiça funcione para todos. “Normalmente para os que têm mais dificuldades funciona mais rapidamente, por isso espero que funcione também para os mais poderosos, para sabermos o que se passa na realidade e se há razões ou não para ele ser condenado”, referiu.
Vítor Fernandes acredita, no entanto, que uma condenação poderá ter influência nas legislativas do próximo ano. “António Costa ligou-se a José Sócrates na campanha para secretário-geral do PS e isso poderá ter consequências, mas isso cabe ao PS analisar”, acrescentou.

“Isto mancha o exercício dos cargos públicos” (PSD)
Hugo Oliveira, presidente da concelhia caldense do PSD, afirma que “até trânsito em julgado há presunção da inocência”, referindo-se à detenção do ex-primeiro ministro. O também autarca espera que haja celeridade no processo e que, “a existir  irregularidade ou crime, que seja punido pelos actos, tal como qualquer outro cidadão”.
Hugo Oliveira refere ainda que a justiça deve ser exemplar, tanto na salvaguarda da classe politica como de todas as outras. Reconhece que nos últimos tempos tem havido uma grande associação desta classe à corrupção, pelo que defende uma justiça exemplar, de modo a sirvir de exemplo e que contribua para a credibilidade que esta precisa de ter.
“Tudo isto acaba por manchar o exercício dos cargos públicos e de quem os quer exercer com transparência”, disse Hugo Oliveira, acrescentando que o político deve estar ao serviço dos cidadãos e não aproveitar-se dos meios para benefício próprio.

“Nunca achei que Sócrates fosse um político muito sério” (BE)
No Bloco de Esquerda, Francisco Matos crê que, tendo em conta a medida de coação aplicada a José Sócrates, há algum fundamento nas acusações. E este desfecho nem o surpreendeu de sobremaneira. “Pessoalmente, nunca achei que José Sócrates fosse um político muito sério”, diz.
O líder dos bloquistas nas Caldas da Rainha acredita que o partido do antigo primeiro-ministro também sai descredibilizado. “A nível de intenções de voto isso vai reflectir-se nas próximas sondagens pois o próprio António Costa e outros dirigentes importantes do PS estão ligados a governos de Sócrates e penso que isso vai prejudicá-los”,  sustenta.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt