“É na Suíça que tenciono crescer profissionalmente visto que em Portugal as oportunidades são muito reduzidas”

0
618

Untitled-3 copy

Alexandra Santos Manuel
Alvorninha (Caldas da Rainha)
26 anos
Estavayer-le-Lac – Suíça
Colaboradora numa filial Lidl
Percurso escolar: Escola Primária de Alvorninha, Escola Básica D. João II, Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e Escola Superior de Gestão de Tomar (Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional)

“É na Suíça que tenciono crescer profissionalmente visto que em Portugal as oportunidades são muito reduzidas”

O que mais gosta do país onde vive?
O que mais me cativa na Suíça é a cultura, a beleza do país e a educação do povo suíço.

O que menos aprecia?
O que menos gosto é definitivamente a neve! As paisagens “vestidas” de branco são magníficas, mas para o dia-a-dia torna-se bastante desagradável ter de conduzir, ou até mesmo deslocarmo-nos a pé.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Como todos os emigrantes, do que se sente mais saudades é da família, da comida da mãe que tanta falta me faz , dos amigos que deixamos de ver diariamente e da vida que, apesar da crise, ainda se consegue ter em Portugal.
Tenho saudades de me sentir na minha cidade…
Depois tenho muitas saudades da Foz do Arelho, daquele cheiro a mar que aqui não temos. Apesar de viver a 500 metros do lago, a sensação é completamente diferente.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Neste momento não ponho sequer em hipótese voltar para Portugal, até porque é aqui que estou a construir a minha vida com o Tiago, meu marido. É na Suíça que tenciono crescer profissionalmente, visto que em Portugal as oportunidades são muito reduzidas neste momento.
Mas, obviamente, que o pensamento é sempre um dia poder regressar ao nosso país.

“Ser emigrante torna-nos mais fortes e a dar valor a coisas que quando estávamos no nosso país eram dados adquiridos”

Quando eu e o Tiago chegámos à Suíça, em Junho de 2012, o choque foi enorme! Não sabíamos falar a língua, não conhecíamos a cultura, nada… Aliás, viemos sem trabalho e com o pensamento “temos três meses para procurar trabalho e tentar ficar por cá, se não conseguirmos, pelo menos tentámos”.
Por sorte, encontrámos logo trabalho e nem pusemos a hipótese de voltar. Conseguimos tudo isto graças às excelentes pessoas que nos receberam e nunca deixaram que nos faltasse nada até conseguirmos ser independentes financeiramente. É graças à nossa “família da Suíça” que ainda estamos aqui.
Ao início foi difícil. Cheguei a ter três trabalhos ao mesmo tempo porque a vida aqui é extremamente cara e para conseguirmos orientar as contas, teve que ser. Infelizmente as mulheres aqui não são tão bem pagas como os homens.
Dediquei-me a cem por cento ao francês e neste momento não tenho dificuldade nenhuma em falar a língua. Sei que não falo perfeito, mas lá chegarei.
Em Agosto passado consegui entrar no Lidl, que é uma das empresas em grande crescimento na Suíça e onde os salários são bastante atractivos.
Levanto-me as quatro da manhã todos os dias para entrar as 5h00 pois ainda moro a 20 minutos de carro do trabalho. Felizmente tenho a sorte de ter carro próprio, o que me facilita muito a vida, pois os transportes aqui funcionam muito bem mas são caríssimos.
A nossa vida durante a semana é basicamente casa-trabalho-casa, visto que chegamos ao fim do dia completamente exaustos e aqui não nos podemos dar ao “luxo” de ir ao café todos os dias.
Ao fim de semana encontramo-nos com os amigos nas casas uns dos outros e de vez em quando vamos ao restaurante porque consideramos que a vida não é só trabalhar e amealhar. Somos jovens e por isso há que aproveitar um pouco também.
A comunidade portuguesa na Suíça é enorme, o que de certa forma ajuda um pouco a sentirmo-nos em casa.
O país é lindíssimo e a cultura é excelente. Os suíços são pessoas extremamente educadas (salvo excepções), valorizam muito a preservação da natureza, não dão muita importância a bens materiais, mas as férias no estrangeiro são indispensáveis. A educação que dão aos filhos é diferente da nossa. Penso que são pessoas mais frias em relação a nós.
Sinto um pouco que os suíços estão a ficar cansados dos emigrantes porque realmente são cada vez mais a entrar em território suíço todos os dias e, infelizmente, muitos não vêem propriamente com a ideia de fazer sacrifícios e emigrar sem fazer sacrifícios é impossível.
Contudo, sou extremamente feliz aqui e não me arrependo nem um bocadinho de ter arriscado e ter saído de Portugal em busca de uma vida melhor, que é sem dúvida nenhuma o que tenho agora. Obviamente que o facto de ter vindo com outra pessoa ajuda muito. Em termos psicológicos termos alguém ao nosso lado para nos apoiar é excelente. E, sem dúvida, que não podia ter escolhido melhor companheiro de aventuras que o Tiago.
Em termos financeiros, não há melhor sensação que chegar ao final do mês e não ter de contar os trocos.
Infelizmente, o dinheiro não paga a distância da nossa família e amigos, mas ajuda a conseguir dar-lhes também uma vida melhor.
Ser emigrante é duro, mas torna-nos pessoas mais fortes e a dar valor a coisas que quando estávamos no nosso país eram dados adquiridos.