“No Luxemburgo existe um respeito enorme pelas regras sociais”

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Gustavo Miguel Albuquerque Martins
Caldas da Rainha
28 anos
Differdange – Luxemburgo
Contabilista
Percurso escolar: Escola Primária Bairro da Ponte, EB D. João II, Escola Secundária Raul Proença,  Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, ISCAC (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra), Universitatea Babes-Bolyai Cluj-Napoca (Roménia)

O que mais gosta do país onde vive?
A forma de viver em e para comunidade é o que mais aprecio no Luxemburgo. É notável como um país com mais de meio milhão de habitantes, consegue albergar em si uma mescla de nacionalidades e culturas tão diversificada. Existe um respeito enorme pelas regras sociais. Por exemplo, a reciclagem é cumprida na íntegra por todos. Aprecio também a enorme participação da população em qualquer espécie de eventos promovidos pelas associações locais ou estatais, sejam elas de cariz desportivo, cultural ou social, em que mesmo no Inverno com temperaturas negativas, as pessoas saem de casa para poder participar nesses eventos.

O que menos aprecia?
O clima frio e cinzento característico da Europa central é o que mais chateia. Passam-se semanas em que o céu está sempre cinzento, nem uma rasgo de sol aparece, mesmo no Verão. O Inverno é frio e chuvoso e o facto de anoitecer mais cedo que em Portugal faz parecer que está tudo com falta de cor, nesta época do ano.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Saudades de Portugal são imensas, mas só mesmo da família e da namorada. Por mais que as novas tecnologias ajudem no contacto diário, não é a mesma coisa que a presença física, e isso é do que mais sinto saudades. O mais difícil de estar fora do pais é estar longe das pessoas que mais gosto.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
O objectivo é sempre um dia regressar, nem que seja quando for idoso, mas nos próximos anos gostaria de continuar por aqui pois, infelizmente, profissionalmente Portugal nos tempos mais próximos não me irá conseguir oferecer as condições de trabalho e a qualidade de vida que aqui usufruo.

“O facto de o comércio estar fechado aos domingos, faz com que a população se entretenha em eventos culturais ou desportivos”

Trabalho na área de contabilidade numa das mais prestigiadas empresas luxemburguesas do ramo, tendo um dia a dia “normal” para quem trabalha nesta área – a típica vida de escritório.
O meu trajecto casa-trabalho é feito de automóvel, pois para além de morar relativamente perto, o que me possibilita ter depois actividades extra-laborais, aproveito também os combustíveis serem bem mais baratos que em Portugal. Mas podia deslocar-me de transportes públicos, pois com facilidade existem comboios ou autocarro para fazer qualquer distância
Habito numa vila com pouco mais de 25.000 habitantes, que, embora pequena, disponibiliza equipamentos desportivos e sociais de excelência, em que há uma enorme comunidade portuguesa, onde por vezes me faz esquecer que estou noutro país, pois em qualquer rua há um café ou mini mercado tipicamente português com os produtos portugueses.
Tendo o Luxemburgo um salário mínimo três vezes superior ao português, e oferecendo o Estado luxemburguês imensas apoios sociais à população, seria de esperar que o custo de vida fosse elevado. Mas acontece o oposto: os preços dos produtos são na sua grande maioria, ou semelhantes ou inferiores a Portugal, excepção feita à habitação, aos seguros, e em termos alimentares à carne e a certos legumes. O preço do peixe não dá para comparar pois é quase inexistente a sua venda aqui. Mas tudo o resto posso encontrar e preços semelhantes a Portugal.
Culturalmente reparo-me com uma sociedade altamente desenvolvida, fruto do seu poder económico, mas também com a facilidade com que em poucas horas de automóvel se pode estar em capitais europeias como Paris, Bruxelas ou Amesterdão, e mesmo de avião há uma série de aeroportos internacionais relativamente perto. Ninguém faz férias no Luxemburgo. Todos fazem ferias no estrangeiro, o que lhes traz também bastantes conhecimentos culturais.
Não existem grandes raízes culturais luxemburguesas, não há um estilo de música próprio, ou uma gastronomia de origem. É tudo consumido vindo do exterior. O facto de o comércio estar fechado aos domingos, faz com que a população tenha que se entreter em eventos culturais ou desportivos, ou então em alturas de sol é ver os parques e jardins cheios de gente a aproveitarem para conviver entre si.

Miguel Albuquerque Martins