Artistas contemporâneos dão a conhecer a sua cerâmica em Óbidos

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ArtistasO trabalho desenvolvido por 15 artistas portugueses e brasileiros, em residência artística na Fábrica Perpétua Pereira & Almeida – São Bernardo (Alcobaça) pode ser apreciado agora em Óbidos. Na galeria novaOgiva e no Museu Municipal estão expostas dezenas de peças de cerâmica onde os artistas mostram a sua criatividade e um outro olhar sobre a forma de moldar o barro.

“Viveiro”, de Luís Nobre, é primeira peça da exposição “Prometheus Fecit: terra, água, mão e fogo”, que se encontra patente pelos três andares da galeria nova Ogiva até ao próximo dia 5 de Abril. A curadora da mostra, Fátima Lambert, explica a sua localização com o facto destas obras, em cerâmica (e também em madeira e mosaico hidráulico), “criarem um diálogo” com a própria estrutura das estantes da livraria ali existente.
Apesar de combinarem com a madeira das estantes, as peças até nem foram concebidas para aquele espaço expositivo, mas sim para o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto. Só que viajaram agora até Óbidos onde Fátima Lambert lhes deu uma “nova leitura”.
Também no primeiro piso podem ainda ser apreciadas diversas peças de cerâmica a lembrar o imaginário de Alice no País das Maravilhas, as pintarolas de chocolate, ou a tradição açoriana dos tapetes floridos nas ruas de S. Miguel. As propostas continuam pelo primeiro andar da galeria, onde podem ser vistas várias obras, entre elas a imagem de um soldado composta por pequenas borboletas e flores em cerâmica, ou a utilização de peças da fábrica de Alcobaça, juntamente com outras modeladas por uma das participantes, numa espécie de “ilha dos amores perdidos”.
No andar de cima encontram-se os pratos de Bela Silva, em tons de branco e azul, uma instalação com um jogo de peões de grandes dimensões e quatro travesseiros em cerâmica vidrada, que a artista apelidou de “o sono do crítico”. Já no terraço da galeria está um conjunto a que a sua autora apelidou de “nuvens”.
A exposição prolonga-se ao Museu Municipal, onde as peças contemporâneas convivem em harmonia com as obras de arte antiga, dispersas pelas salas do Gótico, Renascimento e Barroco.
Fátima Lambert destaca que a montagem desta exposição, apesar de bastante desafiante, correu bem pois conseguiu dar uma leitura diferente às obras, especialmente às que estão no Museu Municipal.
A curadora, que é também docente na Escola Superior de Educação do Porto, salienta que a questão da cerâmica tem de ser pensada, pois “infelizmente houve várias fábricas que fecharam”. Na escola onde lecciona está a desenvolver um projecto de investigação de recolha de testemunhos de pessoas que trabalharam nessas fábricas. “Algumas delas já possuem muita idade e têm um saber muito especial de técnicas e instrumentos que inventaram”, disse à Gazeta das Caldas.
Do trabalho final resultará uma publicação e Fátima Lambert acredita que esse pensar sobre o passado “vai preparar outras aberturas nomeadamente a nível da produção”.
Também em Óbidos a cerâmica e o seu futuro será mote de reflexão numa mesa redonda, prevista para Abril, no âmbito desta mostra.
De acordo com a vereadora Celeste Afonso, actualmente “ser-se fábrica é muito mais que produzir”, destacando que estas unidades têm que se repensar, sobretudo fazendo a sua ligação ao design.
Também na Pousada do Castelo podem ser vistas, e adquiridas peças integradas nesta mostra na qual participam Beatriz Horta Correia, Bela Silva, Graça Pereira Coutinho, Luís Nobre, Maria Pia Oliveira, Sofia Castro, Albuquerque Mendes, Isaque Pinheiro, Jorge Abade, Susana Piteira, Catarina Branco, Carolina Paz, Gabriela Machado, Estela Sokol e Fábio Carvalho.