PAÇOS DO CONCELHO – É tão mais fácil…

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Podemos olhar para a nossa praça da fruta reconstruída e elogiar o seu colorido, a organização e o piso direitinho, mas é tão mais fácil criticar aqueles bancos que são diferentes dos que lá estavam, aquela única pedra da calçada que não acaba num ângulo perfeito ou as bancas dos comerciantes que dão trabalho a colocar.
Podemos ficar orgulhosos por termos uma das melhores cidades para os jovens e pelo excelente trabalho desenvolvido no nosso centro da juventude que, variadas vezes, já foi considerado o melhor de Portugal, mas é tão mais fácil acusar os directores de serem escolhidos por uma qualquer fidelidade de jotinha.
Podemos ver as Caldas a evoluir com as obras da regeneração urbana, mas é tão mais fácil queixarmo-nos do transtorno que as obras causam, do parque infantil na avenida que não serve para os mais novos ou dos contentores do lixo que teimam em não desaparecer.
Podemos sonhar com uma nova era de termalismo pujante, agora que as águas e o património termal passam para as mãos dos caldenses, ao invés de continuarem negligenciados pelos senhores que ocupam os gabinetes em Lisboa, mas é tão mais fácil reclamar que deviam ser 70 em vez dos 50 anos acordados, que é muito o dinheiro que a autarquia vai gastar para não deixar cair os pavilhões do parque ou que não podem ser privados a explorar sequer a parte turística e de lazer do termalismo, pois isso vai contra o espírito da Rainha, como se o facto de estar nas mãos do Estado central servisse de algum consolo à fundadora, ao ver o hospital encerrado, sem efectuar quaisquer tratamentos.
É essa característica tão portuguesa, que é tão intrinsecamente nossa, que praticamente já nem percebemos como ela condiciona o nosso comportamento. Quando estamos a conduzir um carro pelas nossas ruas, nunca nos lembramos de elogiar um outro condutor que pára para deixar uma velhinha atravessar a rua ou que se chega ao eixo da via antes de virar à esquerda, permitindo que os outros o passem pela direita em vez de ficarem parados atrás de si. Mas não hesitamos em criticar ferozmente aquele que, por não saber a rua por onde deve seguir, abranda e perturba o trânsito ou aquele que se esquece de fazer sinal antes de virar no cruzamento.
Ao inaugurar hoje este novel espaço de crónicas de opinião sobre política local e regional, reconheço que poderei ter uma tarefa mais complicada do que os restantes cronistas. Não só do que Lino Romão, meu companheiro aqui do lado, mas do que Jaime Neto, José Rafael Nascimento, Rui Gonçalves e José Carlos Faria, com quem, através de uma espécie de contrato de time-sharing, vamos, aos pares, partilhando este espaço. E digo que poderei ter uma tarefa mais complicada porque não é tão popular mostrar o que de bom existe e o que de bem se tem feito quando, na verdade, as pessoas preferem amplificar os erros e lamentar os problemas. Mas, como em tudo na vida, não é a fazer o que é mais fácil que nos realizamos plenamente. Daí que não inveje o trabalho dos que têm por missão apenas apontar o que está mal. Mas é tão mais fácil…

Jorge Varela
jorge.varela@ipleiria.pt