Veremos se temos, ou não temos Lagoa

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Após anos de intenso assoreamento e poluição (que dizem que já não há, mas há), eis que estamos perante uma fase em que alguma coisa pode mudar na Lagoa.
Defendo desde há muito, que o termalismo e a Lagoa, a par da agricultura, são os principais recursos endógenos do território abrangido pelo concelho de Caldas da Rainha e como tal, é neles que algum dia se poderão alicerçar as bases para um desenvolvimento sustentável desta cidade e deste concelho. Porque são eles que nos distinguem de outros territórios, são o nosso valor acrescentado.
Nunca ninguém percebeu isto e fomos assistindo passivamente à degradação de ambos. O Hospital encerrou definitivamente e a Lagoa, tem mais areia e poluição do que água. Ninguém viu, nem se incomodou, não exigiu, nem reivindicou e vários governos, ignoraram a importância deste património natural, cujo abandono contribuiu para o marasmo de que hoje esta cidade e este concelho padecem.
Os autarcas dos concelhos de Caldas e Óbidos, nunca perceberam a obrigatoriedade de se entenderem na defesa deste bem comum e são como tal, corresponsáveis pelo estado miserável a que permitiram que a Lagoa chegasse.
Pensamento estratégico e visão alargada, nunca abundaram por estes lados, pelo contrário, a visão e o pensamento sempre se limitaram a 4 anos.
A Lagoa sempre foi considerada, de forma míope, uma mera praia e um sítio onde alguns pescadores e mariscadores ganham a vida. Esta, é uma visão tão redutora que nunca permitiu que a Lagoa fosse mais do que usada turisticamente na perspetiva do sol e praia, com forte sazonalidade.
E ela tem potencial para se impor como uma pujante alavanca turística do concelho e da região, nas 4 estações do ano.
O turismo cultural e paisagístico, cresce em todo o mundo, mesmo em locais sem as condições fantásticas que a lagoa pode oferecer. Nós aproveitamos nada.
O turismo de natureza, tem na relação entre a zona húmida e a zona seca, um cenário ímpar para ser potenciado. A observação de pássaros por exemplo, assiste a um crescente número de apreciadores, que viajam todo o ano em busca de aves que se encontram na Lagoa. Mas nós vemo-los passar.
O turismo náutico, que envolva as mais diversas vertentes de embarcações de pequeno porte, tem na Lagoa e nas condições climatéricas que ela proporciona, nomeadamente no vento, condições propícias ao seu desenvolvimento.
O próprio turismo gastronómico, nunca foi potenciado em toda a plenitude.
Nenhuma destas vertentes turísticas, foram até hoje entendidas como polos dinamizadores da economia, geradoras de emprego e de riqueza.
Aproxima-se a 1ª fase de dragagens com vista ao desassoreamento e despoluição. Depois de outros prazos anunciados e falhados, diz-se agora que com início ainda em Abril, veremos. Também se anunciou já a abertura de concurso para a 2ª fase, veremos. Esta, é uma intervenção crucial para a salvação da Lagoa.
Em simultâneo, estão em apreciação, as propostas apresentadas a concurso, para elaboração de um projeto de com vista à Requalificação da Zona Marítima Lagunar da Foz do Arelho, que tem início na Avenida do Mar e se prolonga até à zona do antigo parque de campismo, um processo que se arrasta há 7 meses.
Resta esperar que os autarcas de Caldas e Óbidos percebam que a Lagoa é apenas uma, não serve só para dar um passeio de bateira de 4 em 4 anos, não tem margem de cá, nem de lá, tem apenas margem e é nessa perspetiva que deve ser entendida e intervencionada.
O desassoreamento da Lagoa e o projeto de requalificação da margem, podem significar um avanço definitivo e a única oportunidade de salvação da Lagoa e se assim for, é caso para dizer que então sim, valeu a pena ter um Secretário de Estado do Ambiente das Caldas.

Rui Gonçalves
rgarquito@sapo.pt

1 COMENTÁRIO

  1. Durante anos com a Nostrum tentei preparar a Lagoa para um ordenamento sustentável. Apresentámos propostas e nada. Foi na altura entregue uma cópia ao actual secretário de estado do ambiente e nada aconteceu.Sem um documento que sustente o ecosistema nada poderá ser feito com pés e cabeça. Mandar fazer planos de pormenor ser ter uma estratégia ambiental é um erro crasso. E´o que temos e é o que vão fazer.
    A dra. Mercês pode testemunhar todo o processo com envolvimento de universidades.
    Bom trabalho Rui Gonçalves