Fata Morgana, uma abordagem contemporânea do universo bordaliano

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IMG_8461Fata Morgana é uma ilusão de óptica, um efeito óptico, uma ilusão… É também a feiticeira meio irmã do Rei Artur que se conseguia camuflar… Fata Morgana é uma miragem bordaliana de Andreia Tocha, uma exposição que oferece uma nova e contemporânea abordagem às tão familiares peças bordalianas.

Partindo de desperdícios da fábrica Bordalo Pinheiro, Andreia Tocha criou as suas peças e instalações artísticas. Recorrendo às lentes e espelhos, que alteram o real ou reflectem imagens, a artista diz que acrescentou um “olhar modernista, diferente da leitura tradicional que fazemos destas peças” que são usadas por tanta gente no dia a dia.
Foi a partir de duas “tampas de abóboras” (peças de cerâmica) já velhas que tinha em casa que Andreia Tocha fez uma colagem relativa a este ícone tão português e tão caldense. Depois juntou-lhe várias peças do universo bordaliano e completou a sua obra.
“Esta exposição tem tudo a ver com a cidade! Aliás, teria muita pena se não tivesse aqui sido mostrada, porque faz todo o sentido. Foi aqui a casa dele, foi aqui que desenvolveu tudo”, disse Andreia Tocha à Gazeta das Caldas.
A mostra contempla uma colagem de peças características do autor caldense (saladeiras, fruteiras em forma de vegetais, ou os tão conhecidos animais), que com as lentes e o movimento das mesmas, cria efeitos que possibilitam a tal diferente leitura, consoante cada um. É uma peça que permite e, até obriga (numa boa acepção do termo) a uma interacção grande com o observador.
Para além dessa colagem, está em exibição uma instalação com uma árvore e uma espécie de ninhos de ideias, de conceitos, de plasticidade, de vida criativa, habitados por peças de Bordalo reflectidas em vários espelhos. Mas também um macaco (o tal que Bordalo terá trazido do Brasil) e um gato preto, igualmente reflectidos em espelhos.
O caldense António Neto, que por acaso se apercebeu que a exposição estava a ser inaugurada, decidiu visitá-la e, no fim, disse à Gazeta que esta mostra “tem propostas estéticas muito interessantes”. O trabalho de Andreia Tocha mostra, na opinião de António Neto, que estas peças “ainda são contemporâneas quando interpretadas num contexto diferente”.
Elsa Rebelo, da direcção artística da fábrica, já conhecia a exposição, não deixando ainda assim de destacar a originalidade da autora. “É o Bordalo visto à lupa, literalmente”, exclamou.
A vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira, referiu que esta exposição demonstra que “na verdade o Bordalo permite a outros autores criarem”. Referindo que se tratam de peças meramente decorativas que ali ganham uma nova vida, a autarca recorda que o próprio autor “gostava de se desafiar, de chocar, de ser diferente… O espírito de Bordalo está nesta exposição”.
Vítor Marques, presidente da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, salientou a importância da cerâmica para o munícipio, enquanto que Carlos Mota, destacou o trabalho de uma artista singular. “Está aqui a iconografia toda caldense”, exclamou, já depois de revelar que alguns artistas caldenses irão também no CCC mostrar as suas modernas abordagens da obra de Bordalo.

Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt