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Gazeta das Caldas

Image11«Eusébio como nunca se viu» de António Simões

António Simões (n.1963) é jornalista de A Bola desde 1985 e afirma-se como alguém que não quer ser historiador mas quer contar histórias. Este livro de 317 páginas é uma perfeita, bela e verdadeira foto-biografia de Eusébio da Silva Ferreira. Em duas situações se percebe com nitidez a paixão, a polémica e a confusão à volta até do seu nome: na página 24 o amanuense da Associação de Futebol de Lourenço Marques escreve em 1958 na ficha Eusébio da Silva «Pereira» e na página 312 surge Eusébio «Ferreira da Silva» no «Hall of Fame» em 2003. António Simões assina uma narrativa límpida, honesta e coerente com a realidade, ao contrário da versão dominante na Comunicação Social. De facto Eusébio não era um jogador livre em 1961 mas estava contratado pelo Sporting de Lourenço Marques e registado na Associação de Futebol. Segundo testemunho de um dirigente «leonino» local, o jogador foi no Sporting de Lourenço Marques que se «fez um homem» tendo chegado ao Clube «mal vestido, mal alimentado e descalço». Uma foto do Sporting de Lourenço Marques com Eusébio ao lado do seu grande amigo «Milicas» poderia figurar neste livro e existia na redacção do defunto Jornal do Sporting Clube de Portugal. Outro ponto forte do livro são as contradições entre a verdade e a imaginação: na página 25 Eusébio afirma «assinei o contrato» mas na página 22 está escrito «o contrato assinou-o Jaime, o irmão mais velho de Eusébio, como seu tutor». Eusébio tinha 19 anos, era menor e não podia assinar contratos.
Percebe-se que a revisão do livro é a sua parte mais fraca. Na página 40 está Benfica,3-Barcelona,1 mas é bem «3-2», na página 173 o Inglaterra-Alemanha de 1966 foi «4-2» e não 4-3, na página 172 a lesão de Pelé foi contra a Bulgária em 12-7-1966 e, por isso, ele não jogou com a Hungria a 15 e não estava recuperado em 19 contra Portugal. O nome do jornal A Bola devia ser em itálico nas páginas 165, 223, 230, 237, 246 e 282 tal como «cachet» página 300, «Brado Africano» na página 10 ou o nome do jornalista Ston Liversedge na página 170 que surge em itálico por lapso. Outro lapso tem a ver com o uso na página 40 da palavra cerradas em vez de «serradas», na página 193 de passas-se em vez de «passasse» ou na página 183 tramoia por tramóia e historia em vez de história na página 65. Na página 8 o nome do jornal do PCP é bem «Avante!», na página 9 a sigla inglesa «SOE» não é explicada, na página 56 é bem «levou como mascote um urso-bebé» e não «mascote. Um urso bebé». Na página 90 não se explica qual o adversário («SL»») que perdeu 9-0 na Taça da A.F. Lisboa tal como na página 192 é bem «foram dez ao Seixal» e não «fora dez», e na página 156 falta uma palavra depois de «à saída do» tinha Carlos Miranda tal como na página 192 falta um «a» antes do nome, ficando «a Fernando Riera a Direcção do Benfica aplicou». O ponto mais baixo da popularidade de Eusébio surge na página 185 quando em 30-4-1967, no final de um SLB – Os Belenenses na Luz, o jogador pontapeou o benfiquista Artur Glória que na FLAMA se queixava a Jorge Schnitzer: «O que não percebo é como andam por aí a dizer os jornais que eu já pedi desculpa a Eusébio. O Eusébio é que me pediu desculpa – e pediu, sim senhor. Eu só queria felicitá-lo. E ele fez-me aquilo».
(Editora: Dom Quixote, Capa. Layout e Paginação: Rui Rosa)