O CAMINHO DAS PEDRAS – O futuro das Caldas

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imageAo assinalar-se mais um aniversário de Caldas da Rainha, é tempo de reflectir sobre o que tem sido a gestão do município, para lá dos mitos e das aparências. Caldas sempre teve o poder de compra per capita mais elevado da região, mas terá sido ultrapassada por Leiria em 2007, por Santarém em 2009 e por Torres Vedras em 2013. Esta tendência é corroborada pelos dados do Anuário Estatístico da Região Centro (INE), segundo os quais a produção (medida pelo volume de negócios das empresas sediadas no concelho) caiu 15,7% entre 2007 e 2012, contra 9,4% na região Oeste, enquanto o emprego (medido pelo número de trabalhadores por conta de outrem) decresceu 14,6%, mais seis décimas do que no mesmo conjunto de municípios. Como já aqui escrevi, o declínio de Caldas da Rainha é um facto inegável e andamos a viver à conta da herança, por mais que nos digam o contrário.
O que é, então, necessário fazer-se? Antes de mais, importa mobilizar as extraordinárias capacidades e competências que Caldas possui – o actual modelo de viciosa hegemonia política tem de dar lugar a um modelo de saudável vantagem competitiva, em que a equidade e o mérito se sobreponham ao proteccionismo e favoritismo. Depois, é preciso que os serviços camarários e municipais se estruturem para dar resposta eficaz e atempada às necessidades e aspirações do concelho – o imobilismo e a ineficiência da governação autárquica tem de dar lugar a uma liderança proactiva e transparente, em que as prioridades sejam bem definidas e os compromissos efectivamente cumpridos. Andar, por exemplo, a adiar o Orçamento Participativo, porque não se implementam os projectos aprovados, é que não.
A política de fomento da economia local deverá valorizar a diversidade de recursos (naturais e edificados) que Caldas possui, bem como a centralidade que permitiu ao município desenvolver-se e alcançar a reputação que hoje vê ameaçada. Nesse sentido, importa dinamizar o termalismo e a polivalência turística, incentivar a cultura e as artes, apoiar o comércio e serviços, e fomentar o investimento agrário e industrial – a orientação da autarquia para os assuntos correntes e administrativos tem de dar lugar a uma gestão estratégica centrada na criação de valor para o município e os munícipes, em que o planeamento, a organização e o controlo sejam efectivos e se traduzam em benefícios concretos.
Mas, para que estas iniciativas no plano económico tenham sucesso, é essencial que as infraestruturas da cidade e do concelho sejam funcionais e atractivas, transmitindo uma imagem de qualidade e bom gosto – a negligência e o mau estado do espaço público tem de dar lugar a uma intervenção preventiva e reparativa, cuidada e permanente, envolvendo a autarquia e outras autoridades, as empresas e os cidadãos. Na vertente social, finalmente, a par do reforço da actividade associativa e da consolidação dos resultados alcançados no sector educativo, é necessário acorrer aos problemas sociais mais prementes do concelho e travar a contínua degradação dos serviços de saúde – a destruição do hospital de Caldas da Rainha é um projecto maquiavélico e inaceitável, causador de múltiplos impactos negativos para o concelho e a região, devendo, por isso, ser travado e revertido.
Caldas da Rainha tem tudo para ser de novo um caso de sucesso, assim queiram os caldenses. Para isso, tem de encontrar a fórmula certa que, de todo, não se enxerga. O futuro das Caldas não pode ser decidido em função de quem gere hoje a autarquia, esta é que tem de ser escolhida em função do que se quer para o futuro do município. Não é tarde para arrepiar caminho, mas faz-se tarde para nos mantermos no mesmo caminho. O caminho certo, o das pedras, faz-se de sabedoria, de amor à terra e determinação, com honestidade, sentido de serviço e inclusão.
José Rafael Nascimento
jn.correio@gmail.com