“Tenho saudades de ver o mar do alto da Foz do Arelho”

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DSC_0161Tânia Caetano Galvão
Caldas da Rainha
36 anos
Payerne – Suíça
Operadora de supermercado
(Migros- Estavayer-le-Lac)
Percurso escolar:
Escola Primária de Salir de Matos
Escola Secundaria Rafael Bordalo Pinheiro

Do que mais gosta do país onde vive?
As paisagens encantadoras que nos rodeiam diariamente, a água translúcida dos rios que descem as montanhas, o parqueamento extremamente organizado, o facto de saber que qualquer animal que se cruze comigo na rua não é abandonado, mas sim selvagem, como por exemplo, veados, raposas, esquilos, etc. Tudo isso são aspectos que aprecio muito aqui. Para além de que estar no centro da Europa, significa que não estamos assim tão longe de Portugal. Apenas duas horas de voo nos distancia. É realmente fácil e rápido estarmos de volta ao nosso País em pouco tempo.

O que menos aprecia?
O clima! As temperaturas negativas no Inverno, e a neve que nos atrapalha o caminho até ao trabalho e no Verão o calor abafador muito propício a insectos que nos invadem a casa assim que se abre uma janela. O cuidado rigoroso em não fazer qualquer tipo de barulho a partir das 21h00 limita-nos um bocadinho. Principalmente quando os dias são maiores e com três meninas pequeninas, não é fácil fazer-lhes entender.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
As saudades são sempre muitas… tenho saudades de ver o mar do alto da Foz do Arelho, de sentir a maresia no rosto, tenho saudades do cheiro da terra quando chove, saudades das filhoses carregadas de açúcar e canela no Natal, do arroz branco da minha avó, não esquecendo a sopa de feijão que só ela sabe fazer! Dos horários alargados dos centros comerciais, visto que na zona onde eu moro a maior parte do comércio fecha às 16h00 de sábado e só volta a abrir às 8h00 de segunda-feira! E não podia esquecer as saudades que sinto da minha família e dos meus amigos que ao fim de quase oito anos fora se tornaram como  família, pelo suporte, carinho e sobretudo por nunca se terem esquecido de nós!

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Pois bem… Claro que a vontade é muita de regressar, mas sei que na minha idade e num país como o nosso, que passa por uma grande crise, por uma elevada percentagem de desempregados, e eu já com 36 anos e pouca formação, seria muito difícil encontrar emprego. Por isso, regressar está longe de acontecer.

“Nós somos de gargalhada fácil, pevides, tremoços e uma cerveja, e o suíço é mais frio, mais calculista e desconfiado”Trabalho a 12 quilómetros de casa numa Vila Medieval de nome Estavayer-le-Lac, à beira do lago de Neuchatel, e que pertence ao cantao de Fribourg – uma zona turística, mas de uma tranquilidade única, e de uma beleza inigualável.
Com pouco trânsito, às 5h30 da manhã, em pouco mais de 10 minutos estou no meu trabalho. Faço aquilo que gosto pois os anos que trabalhei em Portugal (dos quais oito no Pingo Doce no centro da Caldas da Rainha) valeram-me muito para o trabalho que faço hoje num supermercado com mais ou menos as mesmas dimensões  e conceito. Foi muito fácil integrar-me numa empresa de renome nacional, a Migros. Tenho a possibilidade de trabalhar a 60%, o que faz com que tenha muito tempo para a minha família e também para mim mesma,  aproveitando para ir ao ginásio, fazer compras e estar com os amigos.
A Suíça é um país de ricos e para ricos, o nível de vida é bastante elevado. Apesar dos grandes salários, não se podemos dar ao luxo de viver como se ricos fossemos pois aqui paga-se para tudo! Apenas temos uma melhor qualidade de vida.
Para além de nunca ter sentido dificuldade em adaptação nem de aceitação por parte do povo suíço, contudo continuo a notar um grande choque de cultura e mentalidade. Nós somos de falar alto, de gargalhada fácil, pevides, tremoços e uma cerveja e somos felizes. O suíço é mais frio, mais calculista e desconfiado, rapidamente se torna arrogante e muitas vezes mal-educado… Mas não deixam de ter as suas qualidades, claro! Tive que fazer uma aprendizagem para compreendê-los, aceitá-los e ser aceite, e foi fácil sentir-me como um deles!

Tânia Caetano Galvão