Crónica do Québec (Canadá) – Ao serão com Francisco José Viegas

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Francisco e Alexandre

Francisco José Viegas, escritor português sobejamente conhecido esteve entre nós de 16 a 22 de Setembro últimos, para participar na 16 ª edição do Festival Internacional de Literatura de Montreal. Trata-se de um festival em língua francesa que reúne anualmente cerca de duas centenas de autores, e que incluiu este ano um ciclo de literatura europeia dedicado a romances policiais contemporâneos, onde o único representante português apresentou o o seu romance policial « As duas águas do mar».

Antes de regressar a Portugal quiz encontrar-se com alguns membros da comunidade, para lhe sentir o pulso, como disse. Assim, no passado dia 20, num típico fim de tarde pré-outonal, e respondendo a um convite do leitorado de português da Universidade de Montreal, dirigimo-nos a um dos bons restaurantes portugueses da cidade, na rua St. Denis, que dista cerca de dez minutos do nosso escritório. Enquanto caminhávamos ao lado da esposa, cujo local de trabalho se encontra igualmente naquela rua, iamos notando como os residentes enchiam todas os cafés e esplanadas, sobretudo estas, aproveitando ao máximo estes últimos raios dum Sol  de Verão. É que brevemente a vida passar-se-á a desenrolar sobretudo no interior, durante os longos meses de Inverno que se avizinham.
Uma vez chegados ao restaurante Le Vintage, passe a publicidade, já alguns dos convidados, bem como. F. J. Viegas que apenas conheciamos das suas frequentes aparições na RTPI em programas de divulgação cultural, mas sobretudo naqueles típicos programas desportivos, onde normalmente defendia o seu F.C. do Porto, se encontravam em amena cavaqueira e claro, o tema ainda era a bola. Pareceu-me que era o único dos presentes que defendia as côres do grande clube do Norte. O Benfica normalmente está em maioria.
Uma vez efectuadas as apresentações pelo Luis Aguilar, responsável pelo leitorado, segui-se um agradável jantar à base de tapas (devo mencionar que o termo portugûes, petiscos, caiu aqui em desuso, pela facilidade de dicção do vocábulo espanhol equivalente) preparado pelo chefe Manuel Martins e seus colaboradores, após o que o escritor  passou a falar da sua obra. Notava-se que a maioria dos presentes praticamente não a conhecia, mas todos tinham feito os devidos « trabalhos de casa ». Bom contador de estórias, falou-nos das suas origens transmontanas, da influência que a religião tem na sua vida e do caminho percorrido até à recente conversão ao judaismo. Confessa-se adepto  do direito à autodeterminação dos povos da Palestina, do conhecimento que tem daquela martirizada região, bem como da presença dos judeus em Portugal na vila de Castelo de Vide e na provincia de Trás-os-Montes. O escritor deu-nos a conhecer igualmente a influência que os Açores têm em toda a sua obra, e a relação que manteve em determinado periodo com a simpática povoação de Água de Alto, e a sua típica praia de águas quentes e areias volcânicas. Tempo ainda para dissecar o  tema emigração, a utilização do termo diáspora e ultimamente a expressão de «residentes no exterior» a exemplo do que se passa noutras sociedades europeias, devido ao carácter pejorativo do vocábulo emigrante inicialmente usado, em virtude de tudo o que lhe está associado desde o inicio da década de sessenta do século passado.
No final pôs-se à disposição de todos os presentes que fizeram várias perguntas sobre o seu percurso literário, desde o momento em que decidiu abandonar o ensino universitário em Évora para se dedicar a tempo inteiro à literatura através da publicação de várias obras, da manutenção do seu blogue, A origem das espécies, ou  como editor da  Quetzal.
Em determinada altura quando lhe mencionei que mantinha uma pequena crónica no semanário das Caldas para onde tentava passar um pouco da nossa vivência para o lado de lá do oceano, ainda eu não tinha mencionado o nome do nosso jornal, quando ele me diz conhecer bem a Gazeta, tendo até mencionado numa manifestação de simpatia, que passaria a dedicar-lhe um pouco mais de atenção. Para nós foi a constatação de que, sendo a Gazeta um pequeno jornal de província, o trabalho de todos os seus colaboradores vai além do pequeno espaço geográfico que envolve a cidade.

J.L. Reboleira Alexandre
jose.alexandre@videotron.ca