O Teatro da Rainha na antiga Casa da Cultura

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DSC_0350 copyNos dias 24 e 25 de Julho a vida regressou ao que resta da Casa da Cultura, no Parque D. Carlos I. O Teatro da Rainha representou a peça “Kabaret Keuner e outras histórias” de Brecht numa iniciativa que contou com casa cheia nos dois serões.
A ideia de trazer cultura aquele espaço foi da Junta de Freguesia de N. Sra. do Pópulo que convidou a companhia de teatro residente a representar no local que viu esta companhia caldense nascer. Gazeta das Caldas uniu-se a estas duas entidades já que o evento fez parte da programação do 90º aniversário.

O habitual fresco oestino não impediu que perto de uma centena de pessoas, em cada uma das representações, enchesse o espaço que há décadas era um equipamento cultural onde se aprendiam várias artes desde a dança à fotografia.
A Junta de Freguesia de N. Sra. do Pópulo, Coto e S. Gregório, quis aproveitar o facto de ter limpo aquela área para ser usado pela TVI quando decorreu o Cavalo Lusitano. “Agora gostaríamos que esta área fosse usada para outras apresentações”, disse o presidente da Junta, Vítor Marques, muito satisfeito com o facto de ter casa cheia logo no primeiro dia da representação.
“Temos uma peça fantástica e uma interpretação fabulosa e é preciso trazer os caldenses a este espaço, que já foi um ex-líbris da cidade”, disse o autarca.
A peça, interpretada por José Carlos Faria, foi fortemente aplaudida pelo público. “Kabaret Keuner e outras histórias” estreou nas Caldas há cerca de três anos e o actor voltou a ensaiar este monólogo durante os 10 dias que antecederam a apresentação. O que é “interessante e terrível” neste texto de Brecht – que inclui diversos textos e poemas atribuídos ao seu alter-ego, o senhor Kreuner – é que estes foram escritos nos anos 30 e 40 e adequam-se “na perfeição aos dias complicados que estamos a viver”, disse o actor.
Para o actor, retornar ao que resta da Casa da Cultura “é uma dor de alma” pois quando o Teatro da Rainha saiu daquele espaço “havia um auditório montado e agora regressamos a uma ruína”. O encenador conta que não se trata de saudosismo pois este retorno “tem um carácter simbólico e até comovente…”. E isto porque trabalhou ali mais de uma década durante os primórdios do Teatro da Rainha.
Mesmo sem tecto, há nas paredes que restam vários vestígios do trabalho deste colectivo: “há marcas nossas um pouco por todo o lado… ali estava a teia do palco e ainda restam algumas placas do isolamento acústico…”, disse o actor, acrescentando que este retorno acaba por ser similar a “um regresso a um lar que foi bombardeado”.
Para o músico António Freitas, assistir aqui a esta peça de Brecht “foi emocionante” por este ter sido um “espaço que teve muita importância num passado recente”. Lamentou porém “a inoperância e  falta de vontade das pessoas em preservar este espaço de Cultura” que acabou por conduzir ao estado “em que isto está”.

O espaço deveria ser recuperado

Para Ana Paula Faria, assistir à peça causou-lhe alguns arrepios tendo em conta a degradação do que conhecia como a Casa da Cultura. Por outro lado acha que “nada acontece por acaso e não podia haver melhor forma de chamar a atenção para a degradação do espaço”. Espera também que depois deste evento se sigam outras iniciativas culturais.
O encenador Fernando Mora Ramos acha que esta iniciativa em colaboração com a Junta de Freguesia “é uma importante chamada de atenção para o facto da antiga Casa da Cultura necessitar de ter um destino qualquer”. Para o também actor, o espaço deve ser arranjado e ter o mesmo tipo de actividades de natureza artística e cultural. De uma forma ou outra “é preciso fazer regressar este espaço à vida”, reforçou.
O músico Manuel Freire chegou a actuar ao Parque “no tempo do José de Sousa”. O cantor vinha às Caldas com regularidade pois “era muito amigo do Dr. Custódio e da Dra. Alice”. E chegou a vir à Casa da Cultura. Assistir à peça do Brecht “foi um pouco confrangedor dado que vim assistir a uma peça a umas ruínas”. Manuel Freire já tinha visto a peça e “gostei de a rever” mas, ao mesmo tempo, “tive uma sensação de desconforto ao ver ao estado a que isto chegou…”. Em tom de brincadeira, o músico que vive no concelho de Óbidos, diz que espera cá vir assistir a uma outra peça do Brecht “numa outra encarnação e, se possível, já com telhado”.