À volta de uma data

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Olhei para agenda para alinhar a cabeça com a data da publicação dos meus escritos e percebi que “saio” na véspera do 15 de Agosto, dia da Feira. Quase nada sabendo sobre o assunto socorri–me da Gazeta e de uma local, publicada a 12 de Agosto de 2011e assinada JF.
Fiquei a saber que, naquele ano, de 13 a 16 de Agosto, “o terreno que, quase diariamente, acolhe o Mercado Abastecedor promete tornar-se numa espécie de feira popular. A tradicional Feira do 15 de Agosto está de volta. Carrosséis, churros e farturas, bifanas, algodão-doce, venda de roupa e calçado, de quinquilharias e utilidades são alguns dos atractivos da mais antiga feira de características populares que se realiza nas Caldas da Rainha, e que embora longe do fulgor de outros tempos, continua a chamar miúdos e graúdos à cidade termal nos dias que antecedem o feriado católico que assinala a Assunção de Nossa Senhora”.
A data é celebrada em muitos países. Em Itália chama-se Ferragosto; é, por excelência a festa das férias, do escapar da casa de todos os dias, da busca do relax, festa celebrada pela Igreja Católica para festejar a subida de Maria ao céu. E é um evento religioso “montado” sobre um profano.
Calha a 15 de Agosto, tem origem bem antiga e raízes no rito pagão. Nos antigos romanos percebemos que Ferragosto, que quer dizer “Feriae Augusti”, ou seja o “repouso de Augusto”, uma festividade instituída pelo Imperador Augusto – o primeiro de Roma, no sec. VIII a.C. – para celebrar as colheitas e o fim do época dos principais trabalhos agrícolas.
Era um período de repouso, de festas, banquetes, corridas de cavalos e todos participavam, até escravos ou servos.
Ainda hoje permanece algo pagão, como seja o “Palio dell’Assunta”, que continua a ser celebrado em muitas cidades italianas (em Siena a 16 de Agosto): o nome vem-lhe de “pallium”, estandarte que era o prémio para o vencedor das corridas de cavalos na Roma antiga.
No coração do centro histórico, perfeitamente conservado e principal palco desta festa, encontra-se a Piazza del Campo, uma das mais belas do país. É semicircular, apresenta uma ligeira inclinação na direção do Palazzo Publico e é rodeada por edifícios antigos.
Atrás das enormes paredes de pedras das casas que marginam as sinuosas e estreitas ruas que conduzem à Piazza del Campo, a cidade guarda o que tem de atual, de moderno e revela apenas as características da sociedade medieval, de que foi um glorioso expoente e é, hoje, é um fiel testemunho.
Duas vezes por ano os sienenses voltam a esse passado, os seus habitantes retomam os trajes antigos, as antigas rivalidades entre as “contradas” (ou bairros) reafloram e corporações ressurgem desfilando pelas ladeiras e ruelas.
Sagrado, profano e popular: o Ferragosto celebra-se hoje entre os jovens, a partir da noite de 14, organizando marchas de archotes até à praia, metáfora da vitória do Sol no ciclo anual. À meia noite é obrigatório o mergulho no mar, símbolo de purificação e regeneração.
Sem o peso da tradição italiana, a Feira do 15 de Agosto, em Caldas é, ainda assim, uma manifestação popular radicada nos hábitos do oeste. O curioso, ao fim e ao cabo, é que tudo vai “beber” às origens da terra: o culto da Madonna foi importado pela sua fundadora, via Cardeal Alpedrinha, e cá no burgo chama-se Sra. do Pópulo!