Comunistas contestam colocação de dragados em local não previsto no plano

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Gazeta das Caldas

FotoElementosCDUOs candidatos por Leiria da CDU contestam a colocação dos dragados (resultado da intervenção na Lagoa) num terreno junto ao Penedo Furado, na Foz do Arelho. O local onde estão actualmente algumas toneladas de areia não consta do projecto de dragagens que existe na Câmara, mas no placard afixado na praia é indicado como um dos sítios de deposição.
O vereador do Ambiente, Hugo Oliveira, justifica que se trata de uma situação temporária, para não interferir com época balnear, e que depois as areias serão colocadas no cordão dunar.

A colocação das areias num local não previsto no plano e o impacto visual que esta deposição provoca está a preocupar os candidatos comunistas, que no passado dia 21 de Agosto convocaram uma conferência de imprensa, de modo a denunciar publicamente a situação. Também “não temos garantia nenhuma que no Inverno as areias não voltem novamente para a Lagoa”, disse o candidato caldense José Carlos Faria, acrescentando que, se isso acontecer, coloca em causa o trabalho feito com as dragagens.
“O que sabemos é que há um mapa [de obra entregue na Câmara] que não corresponde a esta situação”, disse o dirigente da CDU, criticando ainda a “facilidade” com que se entrega o documento com os locais previstos e depois se colocam os dragados noutros espaços à revelia de tudo e todos. “Estão aqui várias toneladas de areia, parece as dunas do Sahara”, ironizou, lembrando que, do lado norte, os dragados apenas deviam ser colocados na praia, reforçando-a.
Para os comunistas, um dos grandes problemas na lagoa é a falta de intervenções continuadas e integradas. Consideram que os trabalhos deviam ter começado nos braços, “como mostram os estudos”, e não junto ao mar. Quanto à segunda fase, embora prevista, dizem que não há garantias de que esta se concretize, até porque em Outubro há eleições e o governo poderá mudar.
A CDU está também preocupada com a poluição que chega à lagoa. “Algumas das razões para a poluição são descargas, em linha directa, dos efluentes porque a ETAR das Caldas só tem capacidade de tratamento para metade dos resíduos”, denunciou José Carlos Faria, destacando que os níveis de poluição no Braço da Barrosa são muito altos.
Todos estes malefícios condicionam a actividade económica e a diversidade biológica e ambiental, pelo que defendem a classificação da lagoa como Área Protegida de Interesse Regional.
A cabeça de lista da CDU por Leiria, Ana Rita Carvalhais, acredita que será com uma voz comunista que represente o distrito na Assembleia da República que esses problemas serão resolvidos. E conta que no ano passado apresentaram na Assembleia da República um projecto de resolução onde defendiam uma intervenção urgente pela defesa e recuperação daquele ecossistema, nomeadamente ao nível da poluição.
Ana Rita Carvalhais criticou ainda o dinheiro que tem sido gasto em estudos, sem que depois se concretizem as respectivas obras. “Desde 1993 foram gastos 1,3 milhões de euros em oito estudos e quatro projectos. Qual foi o retorno deste dinheiro?”, questionou.
Também o estado de degradação por que passa o Penedo Furado preocupa os comunistas, que criticam o facto de não existir uma área de protecção daquele monumento geológico.
“A derrocada está à vista, as fendas estão detectadas. Isto reclama uma intervenção urgentíssima de consolidação”, defendeu José Carlos Faria, destacando que o monumento deve ser classificado pois será, provavelmente, o maior conglomerado de arenito do país.

Solução temporária

O vereador do Ambiente, Hugo Oliveira, contactado pela Gazeta das Caldas diz que a colocação das areias em frente ao Penedo Furado é uma “solução temporária”.
A autarquia pediu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para que não fosse depositada areia no cordão dunar durante a época balnear de modo a não prejudicar o usufruto da praia. Tendo em conta este pedido e, pelo facto da obra não poder ser interrompida a fim de cumprir os prazos, foi pedido o terreno da Junta de Freguesia da Foz para ali colocar a areia extraída do corpo da lagoa, explicou o autarca.
Paralelamente, a Junta de Freguesia do Nadadouro solicitou a colocação de areia perto da escola de vela e esse trabalho já foi feito.
Hugo Oliveira confirma, no entanto, que o plano com os locais de deposição de dragados que foi entregue na Câmara não coincide com o placard que está afixado junto à praia, pelo que já pediu informações à secretaria de Estado do Ambiente. Lembrou ainda que esta situação foi-lhe comunicada pelo vereador do CDS/PP, Rui Gonçalves, e que está agora à espera das explicações da tutela.

Situação “extraordinariamente grave” no Bom Sucesso

A desmatação que ocorreu no Bom Sucesso para a construção de um empreendimento turístico é vista com “grande apreensão” pelos comunistas, que defendem a paragem das obras.
José Carlos Faria realça que foi feita a desmatação de 240 hectares de mata atlântica, mas que isso não significa que haja uma construção no imediato. “No meio tempo existe o risco sério de erosão no terreno, o impedimento de acesso livre a praias públicas e o problema de consolidação das falésias”, disse, realçando que se trata de uma situação “extraordinariamente grave”.
O candidato da CDU critica ainda o facto se insistir nos mesmos erros do passado, lembrando que vários projectos semelhantes estão em risco de falência ou a prosseguir com dificuldades.
Os comunistas querem que a Lagoa de Óbidos seja vista de forma integrada. “A Lagoa é global”, disse o candidato, acrescentando que nunca houve “a mínima coordenação relativamente a uma intervenção concertada”.