Há muito mais do que praia para conhecer em Salir do Porto

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A praia de Salir do Porto é famosa pelas suas dunas, mas também pelas argilas. É mais uma opção familiar, especialmente para famílias com crianças, que ali encontram águas calmas e poucos profundas do rio. O estacionamento nem sempre é fácil nesta praia que já tem uma oferta considerável em termos serviços, como venda de gelados e cafés próximos, além, claro, da piscina e um parque de autocaravanas.

SMPSalir do Porto é a localidade mais a norte do concelho das Caldas da Rainha. Na praia, apenas a que fica na margem esquerda do rio Tornada fica no município caldense (na outra margem já é município de Alcobaça). Mas é na margem esquerda que se encontra o ex-libris de Salir: uma duna que se ergue cerca de 50 metros acima do nível do mar. Há ainda muito mais para ver e fazer em Salir do Porto: conhecer um pouco da História de Portugal, visitar grutas, praticar desporto aventura, ou provar água doce de uma nascente que brota junto ao mar.

A duna

A duna será a principal referência de Salir do Porto para quem não a conheça de forma tão aprofundada. Faz as delícias dos mais jovens (de idade e de mente), que gostam de a escalar e ainda mais de a descer, seja para testar os limites do seu próprio equilíbrio em corrida, seja para deslizar como se na neve se tratasse.
Mas como é que se formou a magestosa duna, que se ergue a mais de 50 metros do nível do mar, por uma extensão de cerca de 200 metros?
Segundo o blogue mesozoico.wordpress.com – um site dedicado ao património geológico promovido por professores e alunos da área – os arenitos que formam a duna têm origem numa praia que existiu há cerca de 100 mil anos do lado oeste, quando o nível da água era mais baixo do que é hoje. “Os ventos dominantes de oeste fizeram os sedimentos transpor o morro de Salir onde se depositaram, dando origem a um sistema de dunas de grandes dimensões”, refere o artigo.
No seu núcleo, a duna é constituída por arenito vermelho, que constitui vestígio de uma duna fóssil mais antiga. Segundo a mesma fonte, a consolidação das areias foi feita por um cimento ferruginoso, “cuja análise indica que terá ocorrido num ambiente de clima mais quente do que o actual”.
As areias que se sobrepõem ao núcleo são de origem mais recente e terão sido transportadas pelo vento a partir das praias de Salir e de São Martinho.
A duna acompanha a praia fluvial que vai até à baía. A partir daí já é concelho de Alcobaça e freguesia de São Martinho do Porto.

As ruínas da Alfândega

Da praia avistam-se ruínas de um edifício. O caminho para lá chegar é estreito, mas está suficientemente arranjado e por ele pode-se contemplar uma vista magnânime sobre a baía de São Martinho.
Foi aqui que encontrámos Sílvio Rebelo, um alfeizerense de 45 anos emigrado nos Estados Unidos há cerca 30 e que veio a Portugal pela segunda vez desde essa altura.
Visitar Salir do Porto “era um ritual habitual que nunca mais esqueci”, disse à Gazeta das Caldas. Saiu de Portugal com 16 anos e esteve 24 anos sem voltar. Esta foi a segunda vez que regressou e foi especial, foi a primeira que mostrou aos dois filhos, nascidos em solo norte-americano, onde passou parte da infância.
Sílvio Rebelo chamou-nos a atenção pelo franco entusiasmo como relatava o que (re)via. “Esta vista enche a alma, fala por si”, observou depois ao nosso jornal.
“É completamente diferente da paisagem de arranha céus de Nova Iorque e, por muito que viage pelo estrangeiro, nada me faz bater o coração como esta vista”, declarou.
Aqueles pedaços de pedra amontoados são também um pedaço da História do nosso país e da portugalidade. O edifício foi uma alfândega e local de reparação e construção de barcos com madeiras provenientes do Pinhal de Leiria. Histórias antigas contam que algumas das embarcações construídas naquela infra-estrutura terão participado na campanha das descobertas. Entre essas embarcações poderá ter estado a Nau São Grabriel, que capitaneou a armada de Vasco da Gama rumo à Índia e terá participado também na descoberta do Brasil.
As ruínas não têm qualquer tipo de protecção e são bastante utilizadas por pescadores.

A Capela de Sant’Ana

A construção de embarcações para as descobertas pode estar por detrás de outra das ruínas de Salir do Porto: a Capela de Sant’Ana.
É o ponto turístico mais a norte no concelho das Caldas da Rainha e encontra-se mesmo no limite da barra do lado de Salir do Porto. Para lá dela só existem escarpas.
É possível fazer quase todo o caminho para lá chegar de carro, embora através de um conjunto de estradas de terra batida. Refira-se que estão em bom estado. Contudo, os últimos cerca de 500 metros têm de ser feitos a pé ou em duas rodas.
Do pouco que resta da capela, apenas um arco que se mantém de pé deixa perceber que terá sido de facto uma capela, construída naquele local para abençoar as embarcações construídas na alfândega e que se lançavam ao mar. Aqui a vista é ainda mais deslumbrante e, para além de se ver toda a baía, também se vê o oceano.
Ali perto há um acesso a uma pequena praia de rochas.
Nesta zona também encontramos um turista, o aveirense António Alves. Estava de passagem pela região depois de umas férias no litoral alentejano. Veio para conhecer a capela e o túnel de São Martinho, sobre os quais leu na internet.
Este turista assumiu interesse na descoberta destes locais históricos do país. Fez toda a baía a pé para observar e fotografar a capela.

As ‘Pocinhas’ de Salir

Entre a capela de Sant’Ana e as ruínas da alfândega há um terceiro local de romaria: as ‘Pocinhas’ de Salir.
Trata-se de uma nascente de água doce que brota mesmo junto ao mar. A água é boa para beber e segundo análises de 1915, confirmadas em 1970, são ricas em minerais que lhe dão propriedades digestivas e para banhos.
“A água de Salir do Porto pode classificar-se como mesosalina, cloretada, bicarbonatada e sódica, não gasocarbónica e muito fracamente redutora (rH2=25,8). A análise química não revela contaminação”. Foi esta a conclusão das análise de 1970 conduzidas por J.J.R. Fraústo da Silva e J. Duarte de Almeida, documenta Carlos Ferreira na comunidade online MyGuide.
Segundo a Enciclopédia Portu­guesa e Brasileira, as águas têm “notável acção terapêutica no tratamento das dispepsias [digestivas] e de várias afecções cutâneas”.
O nome ‘Pocinhas’ de Salir deve-se às poças de água doce que se formam nas rochas durante a maré baixa e que permitem os banhos, que se podem complementar com lamas argilosas.
Um furo existente, levado a cabo pela empresa Águas de Salir, Lda em 1969/70, teve como finalidade explorar as qualidades da água, através do engarrafamento e do aproveitamento das termas, refere ainda Carlos Ferreira, tendo em conta que a água atinge a superfície a uma temperatura entre os 27 e os 29 graus.
Segundo o blogue do mesozoico citado atrás, a origem destas águas sulfurosas será no maçico calcário a sudoeste que se prolonga até à Serra do Bouro. A água sobe graças à existência de uma falha.
Também aqui encontrámos quem utilizasse estas águas. Da Lourinhã vieram, de propósito para buscar àgua, as irmãs Maria da Conceição e La Salett. “É uma água muito limpinha e faz confusão ser doce, mesmo aqui junto ao mar”, refere Maria da Conceição. Descobriu esta água por indicação, devido a um problema de pele. Utiliza a água juntamente com medicação prescrita por um médico e diz que a tem ajudado.
De Alcobaça vinha Susana Guerra, com o filho, que estava a aprender a pescar. A razão da vinda a Salir foi mesmo esta última, mas não deixaram de passar na nascente para provar a água. “Só sabemos que é doce e que se pode beber”, refere Susana.

Miradouro, um castelo, grutas e trilhos

Já dentro da aldeia de Salir do Porto encontra-se o miradouro. É um dos pontos mais altos daquela zona, de onde se tem uma vista global de todo o vale que antes foi uma lagoa que chegava a Alfeizerão. Também se avista toda a elevação onde se erigiram vários moinhos onde outrora se moeram cereais para farinha.
Nessas encostas também se encontram vestígios do que se calcula ter sido uma pequena fortaleza de vigia e onde terá sido instalada uma forca.
Salir também tem apelos para o desporto aventura. Começando pelos amantes do BTT, a zona entre Salir do Porto e a Foz do Arelho é rica em estradas de terra batida e trilhos que garantem um bom treino físico com contemplação de belas paisagens naturais.
As grutas de Salir do Porto são também um atractivo para quem gosta desse tipo de descoberta. As visitas são por marcação e no seu interior encontram-se formações de estalactites com muitos anos, que mantêm as formas originais, e algumas espécies animais.

Texto e fotos: Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt

3 COMENTÁRIOS

  1. É seguramente a aldeia mais bonita do Oeste, toda a gente falar da baia de S. Martinho, que realmente muito bonita, é importante recordar que há muito pouco tempo, metade da baia, pertencia a Salir, deixando de ser com a construção da ponte que atravessa o rio, para que as despesas fossem suportadas em partes iguais por Caldas e Alcobaça.

    Carlos Abegão

  2. É seguramente a aldeia mais bonita do Oeste, toda a gente falar da baia de S. Martinho, que realmente é muito bonita, mas é importante recordar que há muito pouco tempo, metade da baia, pertencia a Salir, deixando de ser com a construção da ponte que atravessa o rio, para que as despesas fossem suportadas em partes iguais por Caldas e Alcobaça.

    Carlos Abegão