Mau perder

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Independentemente do que aconteceu nos últimos dias, os métodos que António Costa utiliza para chegar ao poder são uma pouca-vergonha.
Lembremos a sua caminhada: em 2011, com a bancarrota causada por Sócrates e a chegada da Troika, Passos Coelho venceu as eleições legislativas e formou governo. Nessa altura, em que não era fácil dar a cara pelo PS, Costa recusou-se a avançar alegando o seu compromisso com Lisboa. Quando, após as medidas de austeridade que Passos Coelho teve de implementar, já parecia ser fácil ganhar as eleições, António Costa desprezou os lisboetas e forçou a saída de Seguro do PS, alegando que este apenas ganhava as eleições por “poucochinho” e que o PS tinha que ganhar com maioria absoluta. Costa não só não ganhou com maioria absoluta como nem sequer ganhou por “poucochinho”. Perdeu e por “bastantezinho”. O normal seria o PS, com António Costa ou com outro Secretário-Geral, passar a liderar uma oposição responsável. Nas negociações para tentar que o governo tivesse apoio parlamentar maioritário, Passos Coelho reuniu com Costa mas, estranhamente, este só quis negociar com partidos ideologicamente mais distantes. Todos percebemos porquê. Apesar de ser mais fácil compatibilizar o seu programa eleitoral com o do PSD, uma vez que são ambos partidos historicamente ligados ao Centro, Costa sabia que, dessa forma,

não seria Primeiro-Ministro. Para chegar até ao poder, António Costa preferiu juntar-se a partidos que nada tinham em comum com o PS, exceto o facto de serem todos os perdedores das últimas eleições e a vontade comum de retirar do governo o vencedor das mesmas. É legítima a vontade de retirar Passos Coelho do governo mas essa decisão não cabia aos perdedores das eleições. Cabia aos portugueses e os portugueses foram a votos e deram a vitória a Passos Coelho.
Entretanto a atuação de Cavaco Silva foi muito criticada. Alguns disseram que ele não tinha que deixar a sua visão política interferir nas suas decisões. Convém lembrar que, em Portugal, o Presidente da República é eleito através de eleições diretas e universais. Quando os portugueses escolhem um Presidente da República, não o fazem pela cor dos seus olhos. O Presidente é eleito para tomar decisões políticas. São decisões que resultam de uma visão política que o Presidente tem para o país e a legitimidade para tomar essas decisões advém do facto de ter sido eleito. Ora, Cavaco Silva foi eleito com maioria absoluta e logo à primeira volta.
O maior problema de tudo isto é que a classe política, que já não gozava de uma grande confiança por parte dos portugueses, não deixa de dar tiros nos pés. Já era comum ouvir dizer-se que a generalidade dos políticos querem chegar ao poder a qualquer preço. Até agora, quando um político assim era descoberto, era a “morte do artista”. A grande novidade trazida por António Costa é a forma desavergonhada com que fez este assalto ao poder.
O pior é que esta forma de fazer política já começa a fazer escola aqui nas Caldas. Há uns meses atrás, vários presidentes de junta das chamadas freguesias rurais fizeram ver à Câmara Municipal que seria melhor que as Áreas de Reabilitação Urbana (ARUs) também incluíssem as suas freguesias e não apenas as da cidade. Mais tarde, apareceram os partidos da oposição, todos juntos numa conferência de imprensa, a reclamar para si o mérito de terem feito a Câmara alterar as ARUs. Se a moda pega, um dia que o PSD não tenha a maioria absoluta nas Caldas, teremos os perdedores (CDS, PS, CDU e BE) a juntarem-se todos para tomar o poder autárquico.