Um auditório lotado aplaudiu os Charanga 33 anos depois

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Charanga7 copyFoi diante um auditório completamente lotado, com mais de 600 pessoas, que os Charanga subiram ao palco, 33 anos depois do lançamento do álbum “Aguarela”, um disco de 33 rotações produzido por João Gil e Manuel Faria. Apesar de não tocarem juntos há cerca de 30 anos, a amizade manteve-se ao longo do tempo e foi esse até o ingrediente principal do concerto de sábado à noite, 21 de Novembro, no CCC. O público, que deixou a timidez em casa, aplaudiu, assobiou e cantou com a banda que, em tom de agradecimento, recebeu todos os espectadores no final do espectáculo com um bolo e champanhe. A festa estava assim montada, reunindo amigos e músicos, numa noite onde verbo principal foi celebrar.

António Freitas, António José Xavier, Carlos Silva, Fernando Lopes, Francisco Carrilho, José Carlos Faria, José Carlos Flores e Manuel Jorge entraram com o pé direito em palco, mostrando que, mesmo passados tantos anos, ainda têm a música popular portuguesa na ponta dos dedos.
O concerto, que foi preparado ao longo de um ano entre as paredes do Centro da Juventude, reuniu temas do disco “Aguarela”, mas também músicas que se encontravam guardadas na gaveta e canções compostas especialmente para o espectáculo. “Não queríamos fazer uma reprodução mecânica daquilo que já tinha sido gravado, tentámos encontrar novas sonoridades para os temas do disco”, contou José Carlos Faria à Gazeta das Caldas.
“Iniciação”, “Lua”, “O Conde da Alemanha”, “Trilogia”, “Sertão” e “Varina”, do álbum “Aguarela”, foram as seis músicas selecionadas para a abertura do concerto, que teve o seu ponto mais alto com o tema “Siga a Dança”, (originalmente da autoria do poeta Nicolás Guillén).
“Vocês fizeram isto bem demais”, afirmava Chico Carrilho ao microfone, depois dos 600 espectadores terem repetido em uníssono as três palavras mágicas: “Siga a Dança”. Na verdade, durante todo o espectáculo, assistiu-se a uma comunhão permanente entre o público e os músicos.
Cantar a palavra dos poetas sempre foi uma característica dos Charanga, que neste concerto dos 33 anos interpretaram “História da Moral”, de Alexandre O´Neill e “Vem Comigo” de Pablo Neruda. A maioria das canções, contudo, é da autoria de José Carlos Almeida, o letrista do grupo. “Na nossa música, em última análise, podem encontrar-se as três grandes divisas da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade”, explicou José Carlos Faria.
Recuando até ao dia 22 de Novembro de 1982, com a imagem do Estúdio 1 presente na memória (sala de cinema onde os Charanga apresentaram o seu álbum ao lado dos Trovante) José Carlos Faria encontra semelhanças entre essa actuação e o espectáculo no CCC. “A sala voltou a estar cheia, com pessoas, alguma delas manifestamente nossas amigas, que revelaram um elevado grau de adesão e entusiasmo, o que a nós nos reconforta”, comparou José Carlos Faria.
Olga Fonseca Esteves, embora não tenha assistido ao concerto no Estúdio 1, leva agora consigo uma boa recordação. “Foi a primeira vez que os vi ao vivo e valeu muito a pena, gostei imenso do espectáculo e não falhou nada. O Chico Carrilho é impressionante, ele canta, dança e representa, tudo ao mesmo tempo”, disse a espectadora, que guarda em casa o CD “Aguarela”.

“Não estávamos à procura de sucesso”

Amigos desde pequenos, os elementos dos Charanga fazem parte de uma geração que nasceu e passou os primeiros anos da juventude antes do 25 de Abril, sem oportunidade de provar o sabor da liberdade. Foi quando estavam na casa dos vinte que decidiram formar uma banda, numa altura de enorme exaltação cívica após a revolução. O objectivo não era alcançar a fama, mas “poder ter a liberdade de comunicar com as pessoas e tocar um instrumento”, adiantou José Carlos Faria. Chegaram a tocar na rua, sem as mínimas condições acústicas, mas também em locais sofisticados, como no Pavilhão de Cascais, onde abriram o concerto da norte-americana Joan Baez. O importante era tocar, fosse onde fosse, para quem quer que fosse. Outro dos momentos mais marcantes da banda teve lugar na Festa da Amizade (Caldas da Rainha, 1983) onde tocaram com Zeca Afonso, no último concerto do cantor português.
Os Charanga terminaram o concerto com um hino à amizade, “Canção da América”, um tema que dedicaram ao público com as palavras finais “hasta siempre” (“até sempre”).

Texto e fotos: Maria Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt