Abysmo, uma editora com várias ligações ao Oeste

0
1643

2016-04-29 Primeira.inddO editor João Paulo Cotrim foi um dos convidados do Seminário Permanente de Refl exão da ESAD que teve lugar a 7 de Abril e se destinou a dar a conhecer a sua editora Abysmo. O convidado, que trabalha com vários  autores caldenses como Miguel Macedo, Carlos Querido e Isabel Castanheira, iniciará uma nova relação no Cadaval, por causa da escritora Fernanda Botelho. “Ainda este ano temos o projecto de reeditar o Praça da Fruta, de Carlos Querido”, disse o editor à Gazeta das Caldas, depois de duas horas de partilha e de mostrar a alunos da ESAD como a paixão pelos livros pode dar origem a um projecto bem sucedido.

Natacha Narciso
Nascida em 2011, em plena crise económica, a editora Abysmo tem crescido a passos vigorosos com a dita a passar-lhe ao lado. E como? Apostando forte no design e na ilustração que complementam os seus livros e fazem deles livros-objectos que muita gente colecciona. E o que antes era apenas uma editora, depressa deu origem a uma segunda, a Arranha-céus, mais séria do que “o
puto traquinas, dado a loucuras que é Abysmo”, disse João Paulo Cotrim. Ainda assim não significa que a Arranha-céus “tenha que usar gravata”, explicou o convidado. Máximas como “sobreviver com aquilo que acreditamos” e tratar o livro como “um objecto muito criativo” são algumas das premissas do negócio de João Paulo Cotrim que continua a crescer de vento em popa. O próximo projecto da editora com a região Oeste terá lugar no Cadaval e está relacionado com a publicação de toda a obra de Fernanda Botelho (19262007). A casa de família onde a autora viveu durante os seus últimos anos de vida na aldeia da Vermelha dará lugar a uma casa-museu em sua homenagem. A divulgação da obra da autora de A Gata e a Fábula, Calendário Privado e Dramaticamente Vestida de Negro está a ser coordenada pela neta, Joana Botelho. A participação da Abysmo neste projecto “permite acentuar a nossa ligação a esta região”, disse o orador que colabora com a Associação Gritos da Minha Dança. Do projecto faz parte a criação do prémio literário Fernanda Botelho, lançado no passado dia 23 de Abril. João Paulo Cotrim revelou ainda que a sua editora tem outros livros na calha e que é preciso dosear entre aqueles “em que se descansa e os outros, que nos suscitam grandes inquietações”. Estes últimos são os que incluem opções arrojadas no design e na ilustração e que se traduzem em livros sem lombada, capas forradas a tecido, ou ilustrações desdobráveis.
NO CENTRO DA TEMPESTADE PERFEITA
“Cada livro tem a sua identidade”, explicou João Paulo Cotrim que muitas vezes tem que tomar decisões, dispendiosas, para poder usar nos seus livros papéis, cores e vernizes especiais para tirar o máximo proveito da originalidade gráfi ca. Estas questões deixam o editor “no centro desta pequena tempestade perfeita” que, por agora, tem-se revelado “compensadora”, apesar das múltiplas difi culdades que apresenta o mundo editorial português. Desde 2011 a Abysmo editou 45 livros e a Arranha-céus, uma dúzia. O problema é que “estamos com um ritmo muito acelerado e não podemos deixar de ser uma micro-empresa. Teremos que recuar um pouco pois já não nos está a dar tanto gozo como no início”, explicou. Outra das características dos autores desta editora é que são “multi-talentosos” – com intervenções na área da música e da performance – e desafi am a Abysmo a participar em novos projectos. Neste momento já está na estrada o espectáculo “Precipício era o Verbo” que junta André Gago, António Castro Caeiro e Carlos Barreto.