Monstra saltou até às Caldas da Rainha

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2016-04-29 Primeira.inddDurante três dias (de 22 a 24 de Abril) o CCC recebeu a segunda edição do festival de animação Monstra à Solta, que a 9 de Junho termina uma digressão por 11 cidades do país. Competições de curtas-metragens (avaliadas pelo público) e sessões para miúdos e graúdos fizeram parte de um programa que desmistificou a ideia de que o filme de animação é sinónimo de cinema para crianças.

Maria Beatriz Raposo
“Automatic Fitness”, curta-metragem alemã realizada por Alejandra Tomei e Alberto Couceiro, foi eleita pelo público caldense como a melhor animação das duas sessões de curtas exibidas na sexta-feira passada no CCC. Um filme que faz uma crítica ao automatismo da vida humana, ao ritmo excessivamente acelerado do quotidiano e a um mundo onde tempo é dinheiro. Nesta história as pessoas vivem numa sociedade dominada pelos robots, pouco convivem umas com as outras e preocupam-se apenas em repetir as rotinas diárias: acordar, tomar banho, comer o pequeno-almoço, trabalhar e voltar à cama. Fechar negócios e facturar são as metas que todos querem alcançar, mesmo que para isso tomem comprimidos para se manterem acordados. A ansiedade gera insónias e também são necessários medicamentos para dormir. Os políticos procuram chegar ao poder tão depressa como os atletas numa prova de atletismo, com a diferença que o fazem sem respeito pelo adversário, recorrendo à batota. A ganância pelo dinheiro acaba por originar o caos, a morte e a falha do sistema. Para André Pereira e Sofia Seno, esta curta foi das melhores em competição. Os dois jovens espectadores, na casa dos 20 anos, elogiaram a diversidade dos filmes, tanto ao nível das técnicas de animação utilizadas, como das nacionalidades representadas (53 na totalidade do festival). A qualidade das histórias também os surpreendeu. “Como em Portugal o cinema de animação não está muito desenvolvido, o Monstra é uma oportunidade para acompanhar aquilo que é produzido em todo o mundo”, afirmou André Pereira, estudante de Som e Imagem na ESAD que em 2014 participou neste evento com uma produção sua. Já a amiga Sofia Seno destacou a qualidade das ilustrações apresentadas, salientando que a sua interpretação não está ao alcance de todas as idades. “É um erro pensar que os filmes de animação são para crianças, basta olhar para estas curtas, que não poderiam ser entendidas por um público infantil”, disse. Foi precisamente neste ponto que falou Ana Isabel Duarte, membro da organização do festival. “O mundo da animação é vastíssimo e consegue chegar a miúdos e graúdos”, explicou a responsável, salientado que o Monstra à Solta apresenta uma programação que tanto satisfaz mais velhos como mais novos. As sessões Monstrinha, por exemplo, dirigiram-se a crianças a partir dos três anos, mas a maioria dos filmes exigia a presença de um familiar por serem legendados. Maria José Tavares acompanhou o neto Diogo, de cinco anos, à longa-metragem “Sarilhos a Triplicar”, uma produção holandesa que contava a história de um conjunto de animais de estimação que também queria receber presentes de Natal. “Valores como a amizade, a solidariedade e o companheirismo foram retratados neste filme, por isso achei-o muito educativo”, contou a avó, que considera importante habituar as crianças a frequentarem actividades culturais. “Embora ele não consiga ler as legendas entendeu a mensagem e mais logo também vamos conversar sobre o filme em casa”, acrescentou. O Monstra à Solta é o “filho” de dois anos do Monstra, festival que se realiza em Lisboa desde 2000 e foi impulsionado por Fernando Galrito, docente no curso de Som e Imagem da ESAD. O objectivo de “soltá-lo” a outras cidade surgiu o ano passado, com a finalidade de mostrar ao resto do país o melhor do que se faz em animação. O único filme português exibido foi “Amélia e Duarte”, de Alice Guimarães e Mónica Santos, que decreve o fim de uma relação amorosa recorrendo ao humor e a personagens reais, uma técnica pouco usada nos filmes de animação.
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