«Quando a bola não entra» de Nelson Nunes

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2016-05-06 Primeira.inddCom o subtítulo de «As histórias dos jogadores que não conheceram o sabor do sucesso» este livro junta nove depoimentos de jogadores de futebol que, como se diz vulgarmente, «passaram ao lado de uma grande carreira»: Edgar Marcelino, Fábio Marques, Vítor Afonso, Gonçalo Gonçalves, Marco Bicho, Rebelo, Pepa, Tininho e Vasco Varão. Numa breve nota pessoal poderei dizer que entrevistei Edgar Marcelino para o jornal «Sporting» algumas vezes e Pepa para o jornal «O Mirante» uma vez. Almeida Garrett escreveu em «Viagens na minha terra» (século XIX) que são precisos duzentos pobres para fazer um rico. Num certo sentido o que acontece no futebol português é muito parecido com a frase de Almeida Garrett: por cada jogador que triunfa há duzentos que fi cam à porta da fama. E do proveito que essa fama implica. No meu livro «Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e outros retratos» (Padrões Culturais) esta realidade está presente em poemas dedicados a jogadores como Afonso Martins, Ricardo Quaresma, Hugo Viana, Miguel Garcia, Carlos Martins, Hugo Pina, César Piedade, Fábio Paim e Emídio Rafael além de outros poemas publicados em Blogs sobre Paulo Teixeira e Fernando Ferreira, por exemplo. Os depoimentos valem por si e esta nota não substitui a leitura de cada uma deles mas há um sentimento geral que é o de Portugal ser um país de «ou 8 ou 80», um país ciclotímico e bipolar (ora eufórico ora deprimido) como explica Gonçalo Gonçalves: «tu numa semana estás bem e és o maior, noutra semana estás mal e és o pior. Desde os colegas até aos presidentes e à massa adepta, todos te criticam. Hoje digo-te uma coisa para te convencer a vir para a minha equipa e amanhã já é mentira. É não olhar a meios para atingir os fi ns. E quando não precisam de ti és lixo, és descartável. O futebol é muito mais um negócio do que um desporto.»O futebol português é um «mundo cão» onde algumas vezes também acontecem coisas bonitas com pessoas que valem a pena; diz Edgar Marcelino: «tanto o Eutrópio como o Mário Jorge fi zeram questão que eu fosse para o clube. São poucas as pessoas que te dão a mão para ajudar sem te nada em troca e, por isso, estou-lhes eternamente grato.» Uma surpresa pode ser o humor que Pepa (a quem chamavam Chibanga) revela na página 200: «O Luís Campos dizia-me muitas vezes que eu ia ser o próximo treinador preto em Portugal e eu dizia, sim, mister mas também não há empresários pretos, nem árbitros pretos nem directores pretos, nem nada preto!» Algumas notas de pormenor não retiram interesse ao livro. Nas páginas 15 e 21 refere-se Alcochete em vez de Barroca de Alva, na página 129 refere-se o euro como moeda antiga, na página 144 a frase é «daqui não saio», na página 150 refere-se «o Belenenses» em vez de Os Belenenses, na página 159 Fernando Santos é referido com o arquitecto em vez de engenheiro, na página 170 refere-se 1.200 euros como equivalente a 600 contos quando é bem 3.000 euros, na página 195 Pepa é referido como escalabitano quando é de Torres Novas, na página 216 a palavra «discrepância» não refere em relação a quê. Na página 256 é referido um treinador do futebol juvenil do Sporting de nome Dominguez que eu não recordo entre 1988 e 2006 quando fui colaborador e redactor do jornal do Sporting. Pode ser falha minha. (Editora: Ideia Fixa, Prefácio: Fernando Santos, Capa: Rita Henriques)
José do Carmo Francisco