A CP repete pelo segundo ano consecutivo uma incompetente mensagem de comunicação sobre a ida à praia em comboio pela linha do Oeste. Os responsáveis do marketing desta empresa pública, eternamente deficitária, resolveram gastar mais de 2500 euros a imprimir panfletos com o horário dos comboios da linha do Oeste que servem a estação de S. Martinho do Porto.
O folheto tem o lindo nome de “Quem vai de comboio não perde uma maré” e seria uma boa ideia se a oferta da empresa fosse verdadeiramente credível e os ditos horários fossem compatíveis com a ida à praia.
Não há dúvida que o modo ferroviário é o mais indicado para deslocações deste tipo por serem mais baratas, mais rápidas, mais amigas do ambiente e sem os problemas de congestionamento e de estacionamento que tanto acontecem em inúmeras estâncias balneares (inclusive S. Martinho).
Mas esta não é a realidade da linha do Oeste, apesar de S. Martinho ter a estação a 100 metros da praia, o que é uma enorme vantagem do comboio face a qualquer outro modo de transporte. O que falha é a escassa oferta e os horários anacrónicos, feitos a pensar na oferta e não nas necessidades dos passageiros, ou seja, da procura.
Por exemplo, do Bombarral para S. Martinho a CP propõe no seu folheto uma viagem de regresso que demora 1 hora e 27 minutos, ou seja, uma média de 20 Km/hora, pouco mais do que uma viagem de carroça.
OS INACREDITÁVEIS TRANSBORDOS
E isto porquê? Porque a empresa insiste em obrigar todos os seus passageiros em mudar de comboio nas Caldas, sendo que o tempo desse transbordo pode demorar entre 10 a 50 minutos.
Deste modo, qualquer pessoa a montante das Caldas da Rainha terá sempre a viagem penalizada por causa de uma interrupção nesta cidade, na qual se muda de uma automotora para outra completamente igual.
É por isso que do Bombarral para S. Martinho as viagens de ida propostas pelo folheto podem demorar entre 42 a 44 minutos e as de regresso são todas superiores a 1 hora.
Já a partir das Caldas a CP pode, de facto, ser uma boa alternativa. Basta dizer que o comboio mais rápido demora apenas oito minutos entre o centro da cidade e o centro de S. Martinho de Porto. Só há dois por dia com este tempo de percurso (e um é às 6h20), mas prova o potencial do caminho-de-ferro.
Ainda assim, quem quiser regressar da praia, só tem uma composição às 17h54 (demasiado cedo para os longos dias de sol durante o Verão) e outra às 21h01 (demasiado tarde).
Ou seja, a CP bem que poderia ficar quieta e não gastar dinheiro em folhetos que se limitam a repetir a oferta existente e que não foi nada adequada à época de Verão.
A empresa diz que nos meses de Julho e Agosto de 2009 a estação de S. Martinho motivou um tráfego de passageiros que rondou os 10 mil (cerca de 167 passageiros por dia) e que desde o início de Julho deste ano já foram efectuadas cerca de 2500 viagens em grupo especificamente para a praia de S. Martinho.
Números irrelevantes, quando comparados com os tempos em que havia vários comboios directos por dia para S. Martinho do Porto (com a oferta do chamado “comboio do banho” na época alta).
É por isso que os 2500 euros gastos em folhetos promocionais – não acompanhados de uma oferta de qualidade – parecem uma provocação à população do Oeste que há muito se desabituou de contar com o comboio, tanto nas suas viagens de trabalho como de lazer.
Não se poupem nas palavras – este acto da CP só revela, de facto, a incompetência da empresa de caminhos-de-ferro, para cujos gestores deve ser um tremendo aborrecimento terem de fazer de conta que promovem aquilo que foram contratados para promover.
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